quarta-feira, 15 de março de 2017

EU SEI - IVO Capítulo I (4 de 8)


Depois destas fases completamente ridículas, baseadas no sentimento, voltei-me para as questões práticas. E passei a observar as coisas à minha volta com mais atenção...
A Sónia, compreendi depois, já tinha passado a fase das questões sentimentais há meses, senão há anos. E assim teve mais que tempo para pensar nas tais questões práticas. E apareceu-me com a solução do partilharmos a casa mas não a cama. Só o espaço e as despesas. Mais nada.
Pelo que ambos sabíamos um do outro, nenhum dos dois tinha quaisquer hipóteses a nível económico e financeira de ficar com a casa sozinho. E pelo valor que cada um pagava por mês ao banco, nem um quarto alugava nas redondezas. E como voltar para casa dos respectivos progenitores estava fora de hipótese....
A Sónia propôs-me que mantivéssemos a fachada de casal maravilha que sempre fomos, excepto para um punhado de amigas dela, que alegadamente já sabia dos “nossos graves problemas conjugais”, e para as quais já não adiantava esconder nada, pois “soaria a estranho!”. Nem queria acreditar no que estava a ouvir!
Assim, os nossos pais continuariam a vir almoçar connosco, e tudo decorreria como até ali. No fundo, passaríamos a ser dois bons amigos, a partilhar casa. Tudo simples e civilizado. Dentro do fingimento, claro.
No fundo ela já tinha previsto e planeado tudo. E para cada questão minha dava uma resposta pronta, mesmo na ponta da língua. Língua de víbora, evidentemente, pois andou a orquestrar tudo durante meses sem me dar qualquer pista. E sem me dar qualquer oportunidade de a reconquistar.
Por fim aceitei o plano dela, mas com muitas reticências. No fundo não queria sair de casa (nem da vida dela). Mas com isto tudo tinha-me tornado num homem desconfiado. Muito desconfiado.
Os dias que se seguiram foram de um reajustamento brutal….
Vocês conseguem sequer imaginar o sofrimento que é estarem a viver na mesma casa com a pessoa que amam, sabendo que não lhe podem sequer tocar? Que dormem em quartos separados. Que as conversas estão limitadas às de “Amigo”?
Mas apesar do que tinha combinado, na primeira vez que a minha mãe veio almoçar cá a casa, a Sónia arranjou uma saída de última hora, inadiável e muito importante. Anotei.
Homens, a sério, não tentem enganar mulheres. A sério, deixem-se disso. É impossível!
À minha mãe bastou pôr os seus olhos sagazes em cima de mim para descobrir logo a verdade. E só perguntou “Porque é que não me disseste nada?” 
Eu encolhi os ombros, fazendo um trejeito com a boca. E nenhum de nós dois voltou a tocar no assunto. Não era preciso....
Os dias seguintes decorreram dentro da normalidade anormal em que estávamos.
Ela assumiu que morava com um amigo que por acaso era o ex-namorado, e voltou a fazer tudo o que fazia antes de me conhecer. E se me controlava, fazia-o de uma forma muito, mas mesmo muito subtil.
Já os meus dias eram mais complicados. Não tinha forma de estabilizar. Por isso ou ficava muito mais tempo no trabalho porque não tinha vontade de ir para casa, ou se batiam forte as saudades ia para casa a correr mal terminava a jornada de trabalho.

(continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário