Depois destas fases
completamente ridículas, baseadas no sentimento, voltei-me para as questões
práticas. E passei a observar as coisas à minha volta com mais atenção...
A Sónia, compreendi depois,
já tinha passado a fase das questões sentimentais há meses, senão há anos. E assim
teve mais que tempo para pensar nas tais questões práticas. E apareceu-me com a solução do partilharmos a casa mas não a
cama. Só o espaço e as despesas. Mais nada.
Pelo que ambos sabíamos um
do outro, nenhum dos dois tinha quaisquer hipóteses a nível económico e financeira
de ficar com a casa sozinho. E pelo valor que cada um pagava por mês ao banco,
nem um quarto alugava nas redondezas. E como voltar para casa dos respectivos
progenitores estava fora de hipótese....
A Sónia propôs-me que
mantivéssemos a fachada de casal maravilha que sempre fomos, excepto para um
punhado de amigas dela, que alegadamente já sabia dos “nossos graves problemas
conjugais”, e para as quais já não adiantava esconder nada, pois “soaria a
estranho!”. Nem queria acreditar no que estava a ouvir!
Assim, os nossos pais
continuariam a vir almoçar connosco, e tudo decorreria como até ali. No fundo,
passaríamos a ser dois bons amigos, a partilhar casa. Tudo simples e
civilizado. Dentro do fingimento, claro.
No fundo ela já tinha previsto
e planeado tudo. E para cada questão minha dava uma resposta pronta, mesmo na
ponta da língua. Língua de víbora, evidentemente, pois andou a orquestrar tudo
durante meses sem me dar qualquer pista. E sem me dar qualquer oportunidade de
a reconquistar.
Por fim aceitei o plano dela, mas
com muitas reticências. No fundo não queria sair de casa (nem da vida dela). Mas com isto tudo tinha-me tornado num homem desconfiado. Muito desconfiado.
Os dias que se seguiram
foram de um reajustamento brutal….
Vocês conseguem sequer imaginar
o sofrimento que é estarem a viver na mesma casa com a pessoa que amam, sabendo que não lhe podem sequer tocar? Que dormem em quartos separados. Que as
conversas estão limitadas às de “Amigo”?
Mas apesar do que tinha
combinado, na primeira vez que a minha mãe veio almoçar cá a casa, a Sónia
arranjou uma saída de última hora, inadiável e muito importante. Anotei.
Homens, a sério, não tentem
enganar mulheres. A sério, deixem-se disso. É impossível!
À minha mãe bastou pôr os seus olhos sagazes em
cima de mim para descobrir logo a verdade. E só perguntou “Porque é que não me
disseste nada?”
Eu encolhi os ombros, fazendo um trejeito com a boca. E nenhum
de nós dois voltou a tocar no assunto. Não era preciso....
Os dias seguintes decorreram
dentro da normalidade anormal em que estávamos.
Ela assumiu que morava com um
amigo que por acaso era o ex-namorado, e voltou a fazer tudo o que fazia antes de me conhecer. E se
me controlava, fazia-o de uma forma muito, mas mesmo muito subtil.
Já os meus dias eram mais
complicados. Não tinha forma de estabilizar. Por isso ou ficava muito mais tempo no trabalho
porque não tinha vontade de ir para casa, ou se batiam forte as saudades ia para casa a
correr mal terminava a jornada de trabalho.
(continua)
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