terça-feira, 21 de dezembro de 2021

Amar

 

Amar é das palavras mais utilizadas, mas realmente nunca me questionei sobre realmente o que Amar significa.

Eu Amei e Amo muitas coisas, como livros, filmes, quadros, esculturas, músicas, estilos, tendências, ideias, ideais, lugares, cidades, e também algumas pessoas.

E também poderia amar animais de estimação, como tantos fazem, mas ainda não me deu para isso...

O meu Amor por tudo o que não são pessoas é de sentido único, pois amo e não espero retorno. E nem sequer sou ciumento, pois gosto muito que outras pessoas amem o que eu amo.

Amar pessoas, a maior parte das vezes, é extremamente complicado, muito mais do que amar simplesmente coisas materiais ou imateriais. Ou animais.

Posso Amar uma figura pública por gostar do que faz ou como o faz. E amo-a até me fartar dela.

Posso Amar alguém da minha família apenas por ser do meu sangue.

Posso Amar uma pessoa, romanticamente, mesmo sabendo que essa pessoa não me ama, mas se não a conquistar, sei que vou sofrer, mas superarei o drama e vou partir para outra.

Posso Amar uma pessoa, romanticamente, acreditando que essa pessoa me ama, mas se afinal essa pessoa não me amar, ou deixar de o fazer, regresso ao parágrafo anterior.

Amar romanticamente é um ciclo sem fim de ilusão, desilusão, sofrimento e superação. E desiludam-se todos o que acham que Amar é um festival sem fim de caricias, carinhos, frases doces e sentimentos lindos.

Quem tinha razão sobre Amar era Vinícius de Moraes, que termina o seu Soneto de Felicidade com "Amor é Infinito enquanto Dure"!

segunda-feira, 13 de dezembro de 2021

A Lua

 



Uma Lua enorme apareceu de súbito de entre as árvores, e tão fortemente iluminada que mais parecia uma estrela gigante, num céu profundamente negro.

Desde há minutos que ouvia uivos de lobos, e pelo som senti que estavam perigosamente perto.

Sem outras opções, subo a um pinheiro bravo com ramadas fortes, para poder suportar o meu peso, trepo até aos ramos mais altos, e amarro-me fortemente ao seu tronco.

Nesse preciso momento inúmeros lobos passam por baixo de onde estou, a perseguirem em alta velocidade uma presa que não consegui ver bem o que era, mas que me parecia envolta numa bela luz dourada.

Tão excitados estavam os lobos na sua  perseguição que, aparentemente, nenhum detetou o meu rasto, pelo que abandono rapidamente a árvore e fujo dali.

Necessito de abandonar a floresta, mas o problema é que esta é enorme, e se não sei onde estou, muito menos consigo saber para onde tenho de ir.

A Lua surge novamente e diz-me que me acompanha, que me apoia, que me vai aquecer e iluminar o caminho, e eu, com a esperança renovada, sigo na sua direção.

Do nada deparo-me com uma colina íngreme, o que me deixa bastante satisfeito, pois é sabido que os lobos não apreciam muito este tipo de terreno.

Mas a minha preocupação de sobrevivência continua, pois poderei estar a escapar de lobos me encontrar com ursos ou coisa pior, como buracos ocultos no gelo.

Mais uma vez, a Lua diz-me que devo permanecer confiante e calmo, e que esta aventura terá no seu final uma agradável surpresa, e eu sorrio, confiante na sua palavra.

Quando chego ao alto de um alto penedo para tentar avistar o final da floresta, deparo-me com um brilho dourado intenso, a rodear uma criatura.

Apesar do enorme susto que tive ao ver algo tão estranho, senti que aquela luz dourada e quente me estava a atrair.

A neve fofa abafa o ruído dos meus passos, e estou cada vez mais próximo, e a ver cada vez melhor tão estranha criatura.

Ao chegar mais perto, verifico que é uma criatura lindíssima, mágica, da qual nunca tinha visto nem ouvido sequer falar.

Reparo com tristeza que a bela criatura está ferida, com fios de sangue a correr pelo corpo, e compreendi que tinha sido atacada pelos lobos.

Ao notar a minha presença, a criatura assustou-se, mas não conseguiu pôr-se em fuga, tal o seu estado de fraqueza extrema.

Senti no meu intimo que tinha de levar a criatura dali, pois de certeza que daí a pouco tempo os lobos voltariam, para terminarem o que já tinham começado.

Pego na criatura nos meus braços, e para além de parecer não ter qualquer peso, até me dava a sensação de eu próprio estar a flutuar.

Animado com esta nova vantagem, começo a correr montanha acima, ouvindo cada vez mais longe os lobos a uivar de raiva ao longe, frustrados.

Chegámos perto do topo da montanha mais alta das redondezas, e descubro a entrada de uma caverna que me pareceu bastante acolhedora.

A caverna era perfeita para nos acolher, proteger e aquecer, pois, para além de servir de abrigo, permitia ver sem ser visto.

Dentro da caverna, vejo a criatura rapidamente a recuperar dos seus ferimentos, sem eu ter necessidade de fazer absolutamente nada.

À medida que se recuperava, o brilho da criatura aumentava, e as suas feridas sararam completamente em questão de poucos minutos.

Assim que ficou sarada, a criatura assumiu uma forma completamente humana e asas surgiram das suas costas, enquanto eu caí de joelhos, tal o meu espanto.

E o Anjo falou comigo numa estranha e linda língua, completamente desconhecida para mim, mas mesmo assim, consegui perceber tudo o que me disse.

O Anjo contou-me que, em desespero, tinha pedido à Lua que o salvasse, mas que teve como resposta que não podia, pois estava muito longe.

Mas a Lua tinha-lhe dito que ia enviar a pessoa perfeita para o salvar, e que estivesse descansado, pois a ajuda chegaria mesmo a tempo.

Dito isto, o Anjo fez-me uma profunda vénia de agradecimento, e voou em direção à Lua, a sua eterna companheira.

E foi assim que eu fiquei a saber que há muita coisa para além do que vemos e sentimos, e muitas delas são mágicas e lindas.

E que nada na vida acontece por acaso….

(E um Feliz Natal a quem leu este texto)