terça-feira, 18 de julho de 2023

O Fim de Ciclo


 Nunca duvidei do que diziam os cientistas climáticos acerca do aumento das temperaturas, mas sempre julguei que os efeitos não se sentiriam tão rápido, que teríamos mais tempo, que fosse inexorável, mas gradual. Enganei-me. Estamos prestes a ficarmos cozidos.

Em casa em que falta pão, todos ralham e ninguém tem razão, e agora todos apontam o dedo ao El Nino, à El Nina, aos agentes poluentes, aos frigoríficos, e principalmente às vacas, essas doidas, que plenamente conscientes da situação, insistem em libertar metano.

Eu contra mim falo, pois só utilizei os transportes públicos quando não podia conduzir o meu veículo a combustão, pois é bastante cómodo, e como não trabalho longe de casa, é relativamente barato, e assim vou.

Que fazer agora? Aguardar até ficarmos cozidos? Começar a migrar para as regiões mais frescas? E será que os governantes e os locais deixam entrar uma mole imensa de migrantes, em busca de fresco?

Se já somos tantos habitantes, distribuídos pelos quatro cantos do mundo, como será se nos começarmos a concentrar num único canto? O que acontecerá a nível social, alimentar, de saúde pública?

Desconfio que os ricos e os poderosos já começaram a preparar-se para viverem todos juntos, em imensas arcas congeladoras, enquanto o povo vai estar a cozer como lagostas na panela, em crescentes ondas de calor, cada vez maiores e mais frequentes.

E assim se encerrará mais um capítulo da história da Terra, em que vai morrer a maioria dos humanos, junto com a maioria dos outros animais de médio e grande porte, tal como aconteceu na época do Noé.

Acredito que, na extensa vida da Terra, houve outras extinções em massa, já com humanos à mistura, e esta é apenas mais uma, na qual, desta vez, sou eu que estou envolvido, como figurante de uma história com um desfecho conhecido, mas não menos trágico.