segunda-feira, 8 de junho de 2020

Viagem só de ida



Sinto os meus dias a passarem cada vez mais depressa, e mesmo que tente parar ou abrandar, vejo o meu tempo a ser sugado, rumo a uma entropia impiedosa.

A humanidade sempre baseou a sua vida nos ciclos solares e lunares, e observando esses medidores de tempo, com justiça celebraram desde tempos imemoriais esses importantes marcos com cerimónias e homenagens.

Com mágoa, reconheço agora que nunca me dei ao luxo de estabelecer uma ligação a esses ciclos naturais, e por isso nunca notei mudanças em mim pela Lua estar cheia ou estar perto de um qualquer solstício.

Talvez por não ter ligação a esses mercadores de tempo tenho a sensação que o tempo corre mais depressa agora do que antes, pois quando era bem mais novo, um ano era realmente muito longo.

Sinto que o tempo à minha volta corre a uma velocidade vertiginosa, em direção a algo que ainda nem consigo imaginar, mas que de certeza me vai engolir sem remorsos.

Tenho assim a sensação estranha e singular de estar a entrar num vórtice, inexorável e firme, que não conhece hesitações nem recuos, apenas avanços e aceitações.

Mas, no entanto, toda esta minha incerteza acerca do futuro, do tempo e do espaço é plenamente compensada com o êxtase de ver este Cosmos sem fim, a rumar, quiçá, em direção a outras formas de Criação ou Destruição. Ou, quem sabe, a outras Dimensões?