quarta-feira, 3 de julho de 2024

O Reclamante Militante

 

No decorrer dos meus anos de atividade como ser humano, tenho observado as pessoas que me rodeiam, e hoje dedico a minha reflexão a uma boa parte da população que, à falta de melhor termo, designo como Reclamante Militante.

Esse tipo de pessoa mais não faz do que reclamar de tudo e de todos, de forma permanentemente, mas estranhamente, não faz nada para alterar o estado das coisas. Nunca reclama de si próprio, pois considera-se um ser perfeito. O problema são os que o rodeia, que o levam à loucura.

Reclama do cônjuge, dos filhos e dos amigos, do trabalho, da política, da economia, da saúde, grita “já chega, não aguento mais”, mas depois de explodir, não quer que aconteça mais nada, pois na realidade não quer nenhuma mudança na sua vida. “Para o mal já basta assim”, como reza a tradição.

Considera que está numa relação insuportável, que já não consegue estar com a pessoa com quem partilha a vida, que se sente traído, roubado, que sempre deu demais do que recebeu, e por isso reclama “até que a voz me doa”, como cantava a eterna Fadista Maria da Fé.

Mas, na realidade, só quer ter o prazer e o direito de reclamar, pois não pretende acabar a relação, seja pelos filhos, pelos pais, pela estabilidade social, pela paz no Mundo, pelo medo de ainda ficar pior, eu sei lá. E acho que nem ele sabe. Ou se sabe, e não quer dizer.

Reclama da sua atividade profissional, dos rendimentos auferidos, do excesso ou da falta de trabalho, dos colegas e das chefias, do calor ou do frio, mas questionado porque não muda de trabalho, responde “Agora já não dá!” ou “Quem me roeu a carne que me roa os ossos. É aguentar!”.

Assim, concluo que, apesar dos protestos, esse tipo de pessoa aceita o que Deus, o Destino, o Karma ou o Governo lhes dá, desde que não mude nada na sua vida. E que todos os outros devem fazer o mesmo.

Sinceramente, não sei se esse tipo de pessoa é assim porque nasceu, foi educado ou foi o ensinamento da vida. No fundo, quer apenas que haja Sol na Eira e Chuva no Nabal. E que o deixem reclamar à vontade, para ficar tudo na mesma.


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