sexta-feira, 23 de junho de 2017

Trujillo



Subo a uma das tuas colinas e admiro o teu casario, tal como tenho feito várias vezes ao longo de anos.
A minha questão é sempre a mesma: será esta a última vez que te vejo? E o meu coração fica mais pequeno.
Todas as vezes que vou a Madrid tenho de te ver. Para nós tornou-se um ritual. É uma coisa nossa, intima até.
Basta olhar para ti para tu responderes, mostrando os teus múltiplos e ocultos encantos.
Não és particularmente bela pois não estás nas margens de um frondoso rio ou lago, e nem tens altas e bonitas montanhas no horizonte.
Também não possuis monumentos tais que atraias visitantes de longe, como acontece com algumas formosas e tão famosas cidades da tua região.
Para outros podes ser "apenas" um castro antigo e altaneiro, como outros tantos que salpicam o queimado e árido planalto castelhano.
Mas para mim possuis algo que não consigo explicar por simples palavras.
Só dentro das tuas muralhas me sinto completo e em casa. Será por ter aí amado o que nunca mais amei?
Do teu Castelo avisto uma planura sem fim, e lá longe, está o meu país. De onde venho, agora.
Mas é no teu ponto cimeiro que me sinto viver novamente o que já vivi, quando eu era outro.
E é aí que me reencontro. E é aí que me sinto em paz. Contigo.

Ciúmes (2 de 2)


Mas voltando à videoconferência…..
Como habitualmente, partilhei com a Teresa a lista de oradores. Ela olhou com atenção e aprovou-os tacitamente, pois nada disse. Limitou-se a devolver-me a folha.
Depois entreguei-lhe a lista dos participantes, aqueles que apenas podem intervir ou questionar, enviando um email, e ela reparou logo que no extenso grupo havia uma ex minha no grupo.
Pior que tudo, na tal lista constavam os nomes de duas amigas minhas, de longa data, e que para ela eram muito suspeitas – ou seja, fazia grandes cenas de ciúmes quando sabia que tinha falado com alguma delas.
- Jorge, o que é que estas gajas estão a fazer ali? O que é que elas querem? Como souberam disto? E questionava-me com as mãos nas ancas, o que significava grandes sarilhos.
- Teresa, por favor não armes agora uma cena que eu tenho de fazer uma vídeo chamada com um dos oradores e preciso de estar bastante calmo.
- Claro que sim, amor! É que nem te incomodo mais. E apanhando a mala, bateu com estrondo a porta da rua.
Para mim era preferível ela ter continuado ali, a questionar-me. Ela sabia bem que sair porta fora, zangada comigo, e ainda por cima acompanhada de um sarcástico “amor” era para mim altamente enervante. Desisti de falar com o orador.
Quando ela voltou, uma ou duas horas depois, eu encontrava-me numa grande azáfama, pois estava a minutos de se iniciar a videoconferência. Ela tocou-me levemente no ombro e piscou-me o olho.
Reparei que ela estava a ligar o seu portátil no quarto, pois era uma das participantes. Achei-a calma e acalmei-me.
Tudo estava perfeito.
Começou a videoconferência. Senti que todos os oradores estavam fortemente determinados em que a sessão fosse um sucesso.
Como moderador, estava atento a todos os pormenores, incluindo ler as questões e mensagens dos participantes, direccionando-as para quem considerasse mais capacitado para responder ou comentar.
Já mais de metade da videoconferência tinha decorrido quando uma das oradoras, aspirante a mais protagonismo, e de seu nome Virgínia, resolveu brilhar.
Começou a falar com ainda melhores argumentos e com mais emoção. E o tempo que falava começou a ultrapassar o dos outros todos juntos. E claro que isso não passou despercebido a ninguém.
Compreendi que dado o evento estar a ser um sucesso, a Virgínia sprintar, tal como o faria se estivesse numa maratona e quisesse ganhar a corrida.
E na sua ânsia de se destacar, e não querendo perder oportunidades, começou a insinuar-se a mim como moderador e organizador, falando em encontros de trabalho de preparação para futuros eventos.
Eu sorria para a câmara, pois era mesmo isso que eu queria. Queria competição e audácia.
Confesso que sempre a admirei o trabalho da Virgínia e por isso tinha insistido para que ela participasse como oradora e não como participante.
Mas a coisa começou a descontrolar-se um pouco, pois nós os dois começamos a trocar elogios um ao outro, e eu parei de ler e direccionar as questões e comentários dos participantes aos restantes oradores.
Pior. Quando as lia, comentava apenas com a Virgínia, como se só estivéssemos os dois no mundo. E como isso, naturalmente, fui perdendo o interesse dos outros oradores, e também de alguns dos participantes.
Notei de súbito a armadilha em que tinha caído! Estava a flertar com a Virgínia em frente a todos. Incluindo da Teresa!
Tinha de decidir depressa o que fazer.
A primeira hipótese foi de voltar ao contexto inicial, devolvendo o protagonismo aos restantes oradores, recolocando a Virgínia no seu devido lugar.
Imediatamente refutei mentalmente a hipótese.
- Fui estúpido mas os outros oradores não o são, e já não vão pegar na palavra, pois estão sentidos. Tenho de ir depressa para um plano B, pensei.
Sabia bem o que tinha em casa e imaginei que a Teresa nessa altura já andava a “cuscar” as páginas da Virgínia no Face, Instagram, Twiter, etc.
Os ciúmes da Teresa pela Virgínia já deviam estar no “ponto”.
Arrisquei. Ia tornar aquele evento memorável! E a Teresa iria ajudar-me. Ai se não ia!
- Virgínia, os comentários que tem feito até agora só são superados por uma única coisa, disse, sorrindo, perante a camara.
- E que coisa é essa, Jorge? Retrucou imediatamente a Virgínia, também sorrindo….
- A sua espantosa beleza!…. e para nem falar do seu enorme charme…..
Pelo ecrã consigo ver o que a camara estava a captar atrás de mim, e vejo a Teresa a sair do quarto e a dirigir-se rapidamente para onde eu estava.
E ao vivo e a cores, a camara regista o preciso momento em que ela me acerta com um forte estalo na cara. Uma e outra vez. Com todos a ver….

- A sério, Teresa? Estás a ter uma cena de ciúmes aqui e agora? Mesmo no meio da minha Videoconferência? A sério? A SÉRIO?

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Ciúmes (1 de 2)


- A sério, Teresa? Estás a ter uma cena de ciúmes aqui e agora? Mesmo no meio da minha Videoconferência? A sério? A SÉRIO?
E aí começou a confusão. E garanto-vos, da grossa.
É que por qualquer estranha e desconhecida razão, ela levou a mal a minha mais que justa e legítima, reacção de indignação!
E não permitiu que a “sua” cena de ciúmes terminasse ali. Pelo contrário, ainda piorou mais.
A única coisa que terminou naquele momento foi mesmo a Videoconferência! Pelo menos nos moldes que estava até aí a decorrer.
Claro que os oradores e os participantes não perderam a oportunidade de verem verdadeira acção, e ficaram, desta vez, verdadeiramente interessados, e sem perderem pitada, assistiam à nossa feroz desavença.
Confesso que sabia que a minha credibilidade profissional andava nas ruas da amargura, e que esta era uma das minhas últimas oportunidades de me redimir perante os meus pares.
Sinceramente não imaginava que este evento me ia tornar tão famoso. E fiquei. Mas preferia não ter ficado tão conhecido.
No fundo foi um episódio mesmo muito engraçado, excepto para mim. E desejo a todo o custo ainda poder rir-me dele. Mas ainda não consigo.
É que ainda me recordo dele como um dos piores momentos da minha vida.
Quando aquela cena acabou, pensei em escrever ao Guterres para ele inserir uma cláusula, uma adenda, uma coisa qualquer contra o Ciúme.
Já que se a ONU emite recomendações e resoluções sobre tudo e sobre todos, será que não consegue arranjar um tempinho para se debruçar sobre este flagelo universal?
E que tal incluírem o artigo 31º na Declaração Fundamental dos Direitos do Homem, relativo aos malefícios do ciúme? Há lá pontos bem menos importantes do que este.
Vá lá Guterres, não custa nada. Seria muito importante para a Humanidade e tu ganhavas uns votos para a reeleição.
Na minha humilde (mas fundamentada) opinião, os ciúmes deveriam constar na Constituição da República Portuguesa, com a pena de prisão perpétua para quem cometesse tal vilania, e só porque sou contra a pena de morte.
Os ciúmes deveriam ter lugar e hora marcada, e não para serem usados quando dá mais jeito a uma das partes. Não deveria ser como agora, ou seja, uma total bandalheira.
Bandalheira. Só essa palavra me transporta para esse fatídico dia….
Recordo que quase sem recursos (inclusive de tempo), mas apenas com muito esforço e dedicação, consegui colocar de pé esse evento.
E este era tão importante para mim, pois se decorresse bem iria-me permitir recuperar a minha tão abalada credibilidade profissional. E isso era fundamental.
A escolha dos oradores para a videoconferência foi muito criteriosa, com um mix entre nomes sonantes e aspirantes cheios de energia e boas ideias.
Os convites para os oradores foram enviados com a devida antecedência, servida com a necessária dose de charme. E as figuras mais sonantes aceitaram logo. Considerei um excelente prenúncio.
Dada a qualidade dos oradores, do interesse do tema e ao facto da sessão ser gratuita, começaram a chover inúmeros pedidos de inscrição. A divulgação nestes casos é mesmo desnecessária. Senti-me importante.
Assim, rapidamente foi atingido o número limite de inscrições, e comecei a responder aos retardatários, num tom pesaroso, informando que desta vez não podiam participar.
Na minha cabeça já estava a pensar como iria divulgar ufanamente na net que o evento estava esgotado, mas que poderiam acedê-lo online logo após o seu término.
E inclusive comecei a pensar em mais altos voos, como o de alugar auditórios, acomodando um público mais vasto, mantendo a videoconferência.
A vida corria-me (mais ou menos) bem a nível emocional. E esperava que a nível profissional esta melhorasse bastante após este evento.
Estou com a Teresa há uns seis anos, e considero-a a “mulher da minha vida”. Mas nem todas as mulheres que passaram pela minha vida o foram.
Eu acredito que cada um de nós pode ter mais que uma “mulher da minha vida”.
Em relação à Teresa não sei se sou o “homem da sua vida”, ou mesmo se ela já teve algum. É que simplesmente nunca se referiu a esse tema. Mas desconfio que não sou.
Para mim só há dois tipos de parceiras (confesso que não gosto especialmente da designação, mas há falta de melhor, uso-o): as que são “as mulheres da minha vida” e as que não o são.
O problema é se as hierarquizarmos perante alguma delas. E foi o que eu fiz, perante a Teresa, e ela auto classificou-se em 4º lugar. Eu sempre disse que não, que estava no pódio, mas no fundo concordo com ela. Está em 4º lugar.
A Teresa é uma mulher linda, vistosa, de fazer parar literalmente o trafego automóvel, especialmente se ela se disfarçasse de polícia de transito!
Já eu não me considero atraente. Quando quero talvez seja um pouco sexy, ou talvez seja apenas um pouco diferente. Sei lá. Não gosto de me classificar.
Quando a Teresa mostrou que gostava de mim, imediatamente comecei a gostar dela. Assim mesmo como leram! Comecei a gostar dela, e muito. E começamos desde logo a namorar.
Mas eu tinha começado com o pé esquerdo. Já tinha “metido a pata na poça até ao pescoço”!
É que eu, asno assumido e confesso, quando nos conhecemos e para a manter interessar pelas minhas histórias, comecei a contar-lhe tudo sobre as minhas ex, sobre as minhas conquistas e conquistadas.

E com todos os pormenores!
A Teresa tornou-se uma ouvinte muito atenta, e eu lá fui contando, com mais ou menos fantasias, o que tinha feito e o que queria fazer. E com quem!
Porque o fiz? Simples, porque eu não sei estar calado. Gostava da companhia dela e sabia que ia ficar interessada se lhe contasse esses assuntos. No fundo, toda a gente gosta, especialmente se bem apimentados.
Quando a conheci não tinha ideia nenhuma de que haveríamos de ser um casal. Se eu sequer imaginasse que poderia haver a mínima hipótese para nós, não me teria comportado dessa maneira.
Porém, tenho a noção de que se não lhe tivesse contado as minhas conquistas, a Teresa poderia nunca se ter interessado por mim. Mas isso jamais saberei.
Claro que me arrependo desse “feito”, todos os dias desde que estamos juntos. É que ela sabe tudo sobre mim, sobre o meu passado, sobre o que penso, sobre o que gosto. No fundo, sabe demasiado sobre mim.
Apesar de saber que ela não tem a mínima confiança em mim, devia saber que eu jamais a traí, nem em pensamentos (pronto, agora exagerei um bocado)!
Pesquisando sobre o mal dos ciúmes, verifiquei que há autores que os definem, classificam e enumeram.
Gostei da lista que vi num sítio da internet, em que o autor dividiu o ciúme em seis tipos: inocente, saudável, romântico, sexual, emocional e obsessivo.
Claro que me calhou uma ciumenta de teor obsessiva! É que nem podia ser outra.
Ela reage a toda e qualquer situação que considere menos clara, relacionada com outras mulheres, com uma brutal violência psicológica e verbal, e por vezes física.
Quando lhe dão as “crises”, vou logo acalmá-la, assegurando-lhe que nada fiz, desmontando toda a situação, explicando-lhe tudo ao pormenor para que não lhe restem dúvidas.
Mas acalmar uma pessoa em estado de histeria é uma tarefa no mínimo difícil, se não mesmo impossível.
Mas as crises de ciúmes da Teresa dão-lhe forte mas passam depressa, e no fundo quem se trama sou eu, pois desgasto-me profundamente.
Assim, e pelo meu desgaste, cada vez com mais frequência não intervenho. Pura e simplesmente deixo-a falar, gritar e atirar coisas.
Ao constatar esta forma de proceder, a Teresa passou a achar que quando vou ter com ela acalmá-la é porque há forte razões para ter ciúmes, numa clara assunção de culpa.
Ao contrário, ao ver-me alheado da situação, considera que afinal não tinha razões para ter ciúmes. E por isso calava-se mais rapidamente.
A Teresa mudou rapidamente de estratégia porque reparou que eu estava a alhear-me sempre. Claro que esse meu novo posicionamento estava relacionado com o facto de a ter compreendido, e também por andar mais que farto de a tentar acalmar.
As suas brutais reacções continuavam muito frequentes, motivadas quase sempre por coisas banais, como um atraso de meia-hora no enviar da mensagem diária a dizer “Amo-te muito”.
Assim, o procedimento da Teresa era enviar uma mensagem a afirmar que o meu procedimento indesculpável estava decerto relacionado com o facto de “deves estar muito ocupado a beijar aquela gaja do gabinete do lado”, e outros mimos com que me brindava.
Eu amo-a, mas mesmo assim, sinto que tenho de fazer algo. Por mim.


(continua)

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Dançando com os meus Demónios


O filósofo espanhol Miguel de Unamuno afirmou que “Geralmente, quando detestamos alguma coisa nos outros é porque a sentimos em nós mesmos.” 
Realmente, muitas vezes não conseguia ver defeitos em mim próprio, mas apenas porque me recusava a vê-los. Porém, conseguia vê-los nos outros!
Decidi assim tentar mudar e pus-me a estudar o meu comportamento. Passei a olhar mais para dentro de mim e menos por cima do ombro, para os outros.
Confesso que não foi nada fácil enfrentar os meus defeitos, os meus medos, os meus Demónios. Mas era agora ou iria viver assim o resto dos meus dias.
Assim, de vez em quando, combino um serão de dança com os meus Demónios. E confesso que os sacaninhas têm mesmo jeito para aquilo!
Eles sabem que há sempre uma noite de dança quando estou bem comigo mesmo!
E quando isso acontece, os meus Demónios ficam esfuziantes. Até tomam banho e vestem uma roupa lavadinha!
Mas quando não estou bem, evito-os, escondo-me e nem quero ouvir falar deles. E rezo para que eles não queiram saber de mim.
Eles que vão é chatear outro!
Mas reparo que cada vez menos isso acontece, pois quero-os quase sempre junto a mim, mesmo sabendo que carregam grandes defeitos….
Paradoxalmente é com os Demónios que me sinto bem, em casa. No fundo, tornámo-nos companheiros inseparáveis!
É com eles que eu vivo e é com eles que enfrento, mal ou bem, a realidade dos meus mundos, interior e exterior.
E confesso que dos dois, do que tenho mais receio é do interior, pois desse nunca há como escapar. Ou fugir…

sexta-feira, 9 de junho de 2017

Desespero


Carrego uma vez mais no botão para acordar o telemóvel, e instantaneamente o vidro ilumina-se, permitindo-me verificar as notificações que nos últimos segundos possam ter surgido.
Nada. Nem uma mensagem, nem um Like, nem um misero Smile. Apenas o sorriso dela na foto que coloquei no papel de parede do telemóvel, totalmente rodeada de icons.
Ela não me diz nada há mais de uma hora. Deve estar chateada comigo. Não. Está decerto zangada comigo. Mas porquê? Que lhe fiz eu?
E ponho-me a verificar, mais uma vez, as mensagens trocadas com ela no Mensager, no Whatsapp, nas mensagens do telemóvel. Aqui demorei um bocado mais a responder. Aqui não compreendi o que ela queria dizer e respondi sobre outra coisa. E assim me perco…..
Peço um café. Mais um. O meu coração acelerado dispensa-o mas o meu cérebro exige-o, para poder trabalhar a mil, a milhão. Quando estou a pegar na chávena surge o som de uma mensagem e o meu coração acelera ainda mais, batendo descompassadamente.
Levanto o telemóvel para ver do que se trata e fico com a impressão que a mensagem é dela. Mas não era. É apenas uma superfície comercial a anunciar que tem o bacalhau um bocado menos caro, e que pode ainda acompanhá-lo com beldroegas.
Como posso bloquear estes tipos? Ainda me matam do coração!
E ao mesmo tempo que sorvo o café, vou ao Face e vejo se coloquei um like nalguma publicação de alguma tipa que ela não goste, ou se nalguma publicação minha alguma flausina entretanto tenha escrito um comentário que ela tenha considerado menos próprio,
Vou à página dela ver o que postou. Ui, há uma coisa nova que nem tinha visto. E fico lívido de ódio ao ver que “aquele” gajo comentou. Outra vez. E o meu coração fica parado quando leio que ela lhe respondeu….  e logo a seguir!
- E a mim nem um alô me dá….., penso demasiado alto, pondo uma ou outra pessoa a rodar o pescoço, para ver a cara do maluquinho que anda para aí a falar sozinho.
Penso logo que já estão no Messenger a falar. Que estão já a combinar coisas. Penso e enfureço. Fecho as mãos com força.
Penso em ligar-lhe, mas não o faço. Penso em enviar-lhe uma mensagem, mas tremo só de pensar se ela não me responde, ou se demora mais tempo a responder que ao “outro”.
É que nem um alô…..
Verifico a bateria do telemóvel. Quase no fim! Desgraça. E nem trouxe comigo a power bank. Que estúpido! Um perfeito anormal.
Continuo a verificar tudo e mais alguma coisa nas redes sociais, enquanto o telemóvel se vai consumindo aos poucos…. E eu vou-me consumindo aos muitos!
Desespero. Nada. O telemóvel a 4%. Ainda dá para ir ao Face ver se o gajo respondeu a comentário dela. Respondeu…. Raios!
O telemóvel está no limite. Levanto-me enervado e vou pagar a despesa. Coloco-o no bolso de trás e ao fazer esse gesto ele emite um som.
Uma chamada!
Entro literalmente em pânico! Tiro desesperadamente o telemóvel do bolso e ainda consigo ver - desta vez nitidamente, que era ela. É ela que me está a ligar!!!
E o telemóvel falece de exaustão..... RIP!!!!
Recebo às pressas o troco e sem conferir, despejo as moedas bolso abaixo, ao mesmo tempo que corro até a uma loja em busca de um power bank, de um carregador, de algo que me permitisse ressuscitar o telemóvel.
Nada. Os power bank vêm totalmente descarregados e um carregador não me serve para nada pois não tenho onde o ligar.
Em desespero absoluto corro para casa. O tempo urge e cada minuto conta, mas decido que vou ligar-lhe de casa. Ainda vou demorar a chegar mas vou fazer isso.
Cheguei. Finalmente cheguei e antes de mais nada ligo o telemóvel ao carregador. O tempo que este demora a ressuscitar, mesmo estando ligado, é interminável. Desespero pela espera.
Preparo-me para lhe ligar. Enquanto ouço o toque de chamada, ajeito o cabelo.
Olá Amor. Ligaste? Nem tinha reparado. Não. Está tudo calminho. Nenhum stress…. Beijos. Até já. Amo-te!