sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

O Meu Inesquecível Primeiro Primeiro Encontro (2 de 2)

O empregado do restaurante olha para mim, agarrado às suas ancas e responde: “”. Surpreendido, largo-o e caio redondo no chão com estrondo. Se a Maria realmente já tivesse chegado, de certeza que estava a olhar para mim, não que soubesse que era eu, mas porque dei tanto nas vistas que todos os clientes do restaurante viram a cena. E todos se riram muito. E durante demasiado tempo.
Pelas minhas contas, eu estava mais de uma hora atrasado, e ainda precisava de saber qual das senhoras presentes era a Maria. Se é que era alguma delas, pois o empregado podia ter dito que ela já tinha chegado só por dizer, ou por achar que eu era tão parvo que merecia ser enganado.
Não vos disse, mas com a minha timidez e pouca sorte genética, aliada à grande falta de experiência na arte da sedução, resolvi não incluir a minha fotografia. Ela fez o mesmo, e não me cabia perguntar-lhe das suas razões. O resultado é que nem eu nem ela sabíamos como eramos na realidade.
Quando ela me pediu para me descrever, acho que distorci um bocadinho a realidade. Mas foi só um bocadinho. É que nestes casos não convêm exagerar. Disse-lhe que parecia o George Clooney. Mas realmente pareço na posição das mãos quando eu e ele bebemos café. Ele no anuncio da Nespresso e eu na Padaria Portuguesa.
E ela disse que parecia mesmo a Cameron Diaz, e por isso lancei um olhar pela sala em busca de uma loura. Encontrei uma. Era realmente parecida com a Cameron Diaz. E fiquei parado. Ela mesmo lindíssima. E como sou tímido, sabia que não iria conseguir dirigir-lhe uma palavra sequer.
Antes de acontecer fosse o que fosse, sinto a minha mão a ser tocada por outra mão. Surpreendido, julguei que fosse o empregado a quem lhe agarrei as ancas que me quisesse conhecer melhor, mas não era. “És o Tomáz?” Pergunta uma mulher na mesa ao lado de onde estava. “Sou”. Era a Maria. Foscasse. Não se parecia nada com a Cameron Diaz. Esta gaja é mesmo muito exagerada.
Sento-me atabalhoadamente na mesa dela, sentindo uma enorme emoção. Afinal, era o meu primeiro primeiro encontro, perfeitamente às cegas, em Ranholas, tinha o meu automóvel avariado ou possivelmente morto, estava atrasado mais de uma hora, e principalmente, estava a conhecer presencialmente a Maria, e que ainda por cima não se parecia nada com a Cameron Diaz.
Olha lá, o teu espelho está mais avariado que o meu, não está? Então onde é que és parecido com o George Clooney?” Atira sem cerimónias a Maria. Ri-me, mas graças à minha timidez não lhe respondo, e ponho-me a olhar para o prato, vazio, que estava posto à minha frente. Responder o quê, ela também não era propriamente uma sósia da Cameron Diaz.
Até posso dizer que correu bem o meu primeiro primeiro encontro, apesar de tudo. Mas afinal, não havia nada para que pudesse correr mal.
E no final do dia fomos os dois para a cama, e passámos uma noite absolutamente fantástica.

Bem, é claro que cada um dormiu na sua casa, na sua própria cama, ou vocês estavam a pensar o quê? Que somos alguns tarados? Somos ainda muito novos para isso, não?
(fim)

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

O Meu Inesquecível Primeiro Primeiro Encontro (1 de 2)

Acelero o meu velho automóvel até ele começar a gemer. Ou será que ele está é a voar baixinho, tal a velocidade? Mas qual velocidade? Ele só passaria dos 100 quilómetros por hora se fosse a cair de um penhasco abaixo. Senão, dá um máximo de 60 à hora e é com muito boa vontade. E sorte.
Estou mais do que atrasado para o meu primeiro primeiro encontro, tenho o telemóvel descarregado, não tenho dinheiro na carteira, o automóvel está quase sem gasolina, não sei bem onde o vou estacionar, nem conheço o local onde ela marcou o nosso primeiro encontro.
Afinal, o que é que poderia correr mal? Tenho tudo para que corra certo. Ou será que não?
Sou um tipo muito tímido, e que me intimido com todo o tipo de mulheres, especialmente com as que são muito belas. Só de pensar começo a tremer. E quando uma me olha fixamente, fujo! Mas fujo mesmo, não só de olhar mas piro-me dali rapidamente.
Para piorar, a minha genética não me facilitou nada. Se eu fosse um gajo giro, podia ser tímido à vontade que elas vinham ter comigo. Como não sou, estou francamente lixado. Na escola, nem as feias se queriam aproximar de mim. Foi duro. Mas agora tudo mudou.
A minha sorte é que as redes sociais facilitaram-me a vida. Assim, não preciso de andar por aí a ver raparigas, a tentar falar com elas, como no tempo dos meus antepassados. Só tenho de teclar, esperar que elas apareçam, e vou assim falando com umas e com outras.
E foi assim que eu conheci a Maria, moça de bom trato e de boas famílias, e que segundo ela nunca teve namorado, apesar de já ter 26 anos. Bem, eu tenho 25 e também nunca tive namorada nem perto disso. Nada de estranho para mim, portanto.
Pela placa, acabo de chegar a Ranholas, localidade do concelho de Sintra, o meu destino final. Agora só tenho de achar a Rua… Porra Chiça Merda. Esqueci-me do nome da rua. Começo a suar muito, apesar de estar bastante frio. Ora aí está outra coisa de que me esqueci. A outra foi do carregador do telemóvel para o automóvel, produto de primeira necessidade, especialmente para quem tem, como eu, um telemóvel velho e com a bateria viciada.
O meu carro por fim farta-se e fina-se ali mesmo, mesmo a tempo de o conseguir encostar na borda do passeio. Para uma pessoa distraída, parecia mesmo que estava a estacionar, mas só eu e o meu automóvel é que sabíamos que ele tinha morrido ali. Mas isso era coisa para me preocupar depois. Agora precisava mesmo é de encontrar a Maria.
Como Ranholas não é grande, dou de caras com o Restaurante Kyonagi, local onde eu e a Maria combinámos encontrar-nos. Cheio de estilo, entro como se fosse habitual na casa. Mas o diabo é sujo e fez-me tropeçar na entrada e e na queda agarro-me às ancas de um empregado. Para não perder o estilo, e naquela posição mesmo muito estranha, pergunto ao empregado, de baixo para cima: “Sabe se a Maria já chegou?