Alterei os meus hábitos, e fi-lo de tal forma que deixei de ir tanto ao minimercado como ao café.
Venho do trabalho directa para casa e de casa vou directa para o trabalho. Aqui no bairro não me
demoro para nada, nem para cumprimentar as minhas vizinhas, coitadas.
Mas elas sabem. Elas sabem
porque faço isto. E compreendem. E fariam o mesmo.
Desde que o Paulo me disse
que tinha encontrado o André aqui no bairro, não houve um único dia em que não tivesse receio de o encontrar.
É que sinceramente não sei o
que pode suceder se voltar a vê-lo!
Cometi um erro grave na
minha vida. Sei que era muito jovem e inconsciente acerca de sentimentos. Sentia-me
poderosa por ter dois amantes. Era a rainha da cocada!
No fundo fui bastante estúpida. Mas
nessa altura não sabia disso. Não imaginava sequer.
Quando vi o André ir embora
para Mirandela com a mãe, senti-me sozinha, pois foi com ele a parte boa de mim.
Fiquei com o José, mas não era a mesma coisa.
O José é aquele tipo de
homem que se tem para exibir às conhecidas, em festas. Ele foi feito para isso.
Mas apenas para isso.
As minhas amigas
invejavam-lhe o corpo, comparando-o com o dos namorados, mas só. É que não
lhe invejam mais nada. E diziam-no com as letras todas “Oh Lúcia, então ainda andas com
esse tonto?”
É que de cabeça, senhores, o
José era mesmo muito fraquito. Era uma “Maria
vai com as outras”. Se algum amigo aparecia e o desafiava fosse para o que
fosse, ele ia. E sem me dar cavaco. Inconsciente.
A nossa relação nunca foi
firme. José era meu namorado mas sem termos ideia do que iriamos fazer.
Passávamos os dias, as semanas, os meses juntos, mas mais nada. Era pouco para
mim. Mas muito para ele.
Não tardou a ter grandes saudades do André, e sem o José saber, comprei bilhete
de camioneta para Mirandela, mas a minha mãe soube e rasgou-o à minha frente, dizendo:
“Se ele gostar mesmo de ti, virá à
tua procura. É que filha minha não anda atrás de homem nenhum!”
(continua)
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