A minha mãe sempre me disse que eu andava sempre a sonhar, mas ela
estava enganada, pois na realidade era o contrário. Ao apaixonar-me foco-me
completamente no objecto da minha paixão.
Apaixonei-me pela guitarra clássica e durante bastante tempo não fiz
mais nada que gastar palhetas, em busca do som maravilhoso do Paco de Lúcia.
Fiquei perdida de amores pela decoração de bolos, e durante
bastante tempo essa foi a minha vida, dedicando-me de corpo e alma a essa
actividade, mas sem fazer dela profissão.
Fui esperta o suficiente para não me desviar do percurso escolar.
Sempre tive a noção que havia tempo para tudo, e distinguir o essencial do
acessório.
E de paixão em paixão ia vivendo plenamente. Tudo
na minha vida tinha de ter emoção, sangue, lágrimas, assombro. É que a vida é
para ser vivida.
Sempre detestei ouvir os outros a queixarem-se da vida, como se a
sua passagem por este mundo fosse um fardo. E mais furibunda ficava se sabia
que essa pessoa tinha tudo para ser feliz!
É que a Vida são dois dias e o Carnaval são três, e se num
instante estamos a saltar à corda na rua, no outro temos uma carrada de cabelos
brancos, e daí não tarda estamos agarrados a um andarilho, num lar!
As minhas paixões tanto foram por passatempos como por pessoas. A
diferença fundamental é que um passatempo não me trai nem me desilude, ao
contrário das pessoas!
Assim, apaixonei-me diversas vezes por pessoas, e por diversas
vezes não fui correspondida. E se nunca passaram por isso, acreditem em mim que
não minto - para
uma pessoa como eu não há nada pior que ser-se rejeitada!
Mas fazer o quê? Paixão
é paixão e nada a pára quando começa! E
eu? Eu deixo-me ir, sabe-se lá para onde. É que para mim não há limites.
Entre umas paixões e outras, uma vez acompanhei uma amiga a uma
aula de Yoga, pois nada sabia dessa arte milenar, e tinha muita curiosidade
acumulada.
E o resto vocês já sabem… apaixonei-me pelo Yoga. Na realidade,
parecia mesmo que foi criado para mim!
Podem achar estranho e contraproducente esta adaptação, pois podem
pensar que as pessoas hiperactivas como eu não iriam gostar da calma e
tranquilidade que o Yoga proporciona.
Eu, para além de ser extremamente activa, considero que sou muito
sensitiva e nesse aspecto o Yoga completou-me plenamente, ao permitir entrar em
contacto comigo mesma, ao mesmo tempo que me baixa a adrenalina que me invade permanentemente
o corpo.
Assim, tornei-me amante do Yoga, tendo frequentado inúmeros
cursos. Por fim, tornei-me instrutora. Era a plenitude: estar a praticar
constantemente o que mais gosto de fazer, ensinar (outra das minhas paixões) e ainda
por cima receber dinheiro por me divertir!
(continua)