Contrariamente à maioria das pessoas, eu sempre acreditei
que entre dois desconhecidos que acabam de estabelecer contacto, as primeiras
impressões de pouco ou nada valem, pois nos subsequentes encontros cada um deles
se encarregaria de mostrar do que realmente é feito.
Tinha essa ideia porque uma das minhas maiores
amigas afirmou que me detestou na primeira vez que me pôs a vista em cima. Para
minha defesa, refiro que nessa ocasião eu estava completamente engripado,
rabugento, ranhoso. Verdadeiramente improprio para consumo. E consegui alterar essa primeira
impressão altamente negativa nos meses seguintes.
Mas entretanto passei a acreditar que as primeiras impressões valem mesmo muito, e do seu sucesso ou insucesso
resultará a hipótese de haver - ou não - uma segunda oportunidade de conhecer
(melhor) a outra pessoa, e também de nos darmos a conhecer.
Esta mudança ocorreu com a Lurdes (nome fictício).
Nós conhecemo-nos por intermédio de um grande amigo em comum, o Filipe (outro nome
fictício) há mais de uma década. O nosso encontro foi rápido, muito formal e por isso deveras estranho. Pensem numa apresentação estúpida e ficam com a ideia.
Consequentemente, nenhum dos dois manifestou vontade nenhuma de voltar a ver o outro. Não pensem que fomos antipáticos, pois
não foi isso que aconteceu. Foi como encaixar peças da Lego nas da Playmobil.
Simplesmente não dava.
A Lurdes ficou com o meu número de telefone,
cortesia do nosso amigo comum, acompanhado da tradicional frase: “se
precisares de alguma coisa, liga a este meu amigo”. Claro que isso
nunca aconteceu, e nunca iria mesmo acontecer, fosse qual fosse a situação.
Acho que ela preferiria ligar ao próprio Demo do que a mim!
Eu não fui “premiado” com o número de telefone da
Lurdes, mas mesmo que o tivesse, decerto que também a iria ignorar.
Um dia, e quase sem darmos por isso, “amigamo-nos”
no Facebook. Não me lembro sequer de lhe ter pedido amizade, e a Lurdes disse-me que
pelo lado dela nunca iria tomar essa iniciativa. Naquela altura ela queria mesmo era que eu estivesse sossegado
no meu cantinho, bem longe dela.
Apesar de sermos “amigos” no Facebook, o sentimento
da primeira impressão mantinha-se entre nós dois quase intocado. Na
realidade, porém, a indiferença existente afinal poderia não ser tão grande como
julgávamos….
Eu continuava a demonstrar ao Filipe que a minha curiosidade
em relação à Lurdes era mínima, limitando-me a perguntar “então como está a tua amiga?”, num tom de voz mais de cortesia do que por interesse. Ficava deste modo a saber algumas coisitas sobre ela, mas bem poucas.
Mal sabia eu que pelo seu lado a Lurdes fazia o
mesmo. Perguntava por mim ao Filipe com alguma frequência, e sabendo dos meus feitos, conquistas e derrotas.
Com o passar do tempo desapareceu a má primeira impressão, e a minha curiosidade em relação
à Lurdes aumentou muito, muito ajudado pelas referências cada vez mais elogiosas por parte do Filipe, às suas grandes qualidades.
Espaçadamente ia “visitá-la” ao site do
Mark Zuckerberg, apenas para verificar que ela é como eu, não mostrando quase nada
nas redes sociais sobre a sua vida privada. Só fez aumentar mais a minha curiosidade sobre essa “personagem”.
Sem querer levantar suspeitas sobre este meu crescente interesse, comecei
a insistir junto do Filipe para “combinarmos alguma coisa”, ao que
ele me respondia que sim, claro, mas agora não, depois disto e daquilo, e tal e
treta. E eu nada…. Que empata, este Filipe!
Mas de uma forma estranha, sempre acreditei que esta situação se ia alterar,
que as objecções e desculpas iriam terminar um dia, e que com paciência e perseverança,
o destino acabaria por prevalecer.
Agora para nós dois o que vale são as segundas
impressões. E confesso que estas valem ouro!
Por vezes ponho-me a pensar no que a minha vida
teria sido se estivesse mais preparado, focado ou sintonizado com algumas das muitas
pessoas que conheci ao longo dos anos.
Basta pensar como
teria sido diferente a minha vida se tivesse mostrado quem verdadeiramente sou,
na primeira vez que conheci a Lurdes…..