“Estúpido! Pára de me
chatear. Olha, por tua causa agora já não quero ir. Vai sozinho!”
Respondeu num tom de irritação e de desprezo, calculado ao milímetro.
Já sabia
perfeitamente que ela não queria sair comigo. Eu não deito cartas do tarot nem nunca
ganhei nada nos jogos da Santa Casa, mas esse sentimento era-me tão evidente
que só faltava colocar-lhe legendas.
Rebobinei
a “fita” e
revi que, numa única e simples frase, ofendeu-me, culpou-me de ter perdido a
vontade de sair e ordenou-me que saísse de casa. Maravilhoso….
Claro
que utilizei a pressão para que ela anunciasse ao Mundo e de uma vez por todas
o que queria ou não fazer. Hoje não me apetecia jogar jogos longos e
complicados, cheios de sinais difusos e contraditórios, e que não levam a lado
nenhum.
Apesar
de ser homem também sei ler sinais, e ajuda muito haver um histórico. Sei que em
circunstâncias normais a Cristina já estaria despachada e a pressionar-me para
sairmos. Como tudo muda na vida, especialmente na de um casal….
Sabia
que não adiantaria demovê-la, porque a Cristina já tinha antecipado mentalmente
ter a casa só para si, e só o facto de eu ficar lá (mesmo quedo e mudo numa
divisão longe da sua vista) a ia tirar do sério, e começaria uma querela
qualquer.
Nos
últimos tempos ela começou por diversas vezes discussões violentas e
(aparentemente) sem sentido, e eu tinha respondido saindo porta fora.
Como
se estivesse a seguir um guião de um filme, logo que saio, invariavelmente
Cristina aparentemente cai num calculado e fingido pranto interminável, telefonando
a toda a gente descrevendo-me como uma besta insensível, distribuindo pérolas
como “Já nem dá para falar
com ele. Estávamos só os dois a falar….. Eu assim não sei se aguento mais…”
Cristina
está a executar o crime perfeito: Quer acabar com a nossa relação, mas atribuir-me
as culpas por inteiro! E pior, pois sabe que eu sei o que ela está a fazer.
Mas
afinal porque é que ela não diz simplesmente “Já não quero mais,
por mim acabou. Já não te amo!”?
Sou um
optimista. Claro que todas as relações sofem algum desgaste, mas para mim quase todas têm conserto.
Agora esta já não tem, pois acabou um dos itens fundamentais: o Respeito. E isso acaba com o Amor….
Mas não
paro de pensar no mesmo. Porque é que a Cristina tem de nos arrastar para uma situação destas?
Porque
temos de desgastar a relação até ao limite, desgastar-se a ela própria, a mim, as
nossas famílias, amigos e colegas de trabalho?
(continua)
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