Eu sei que não lhe posso dizer nada, caso contrário ela incendeia-se
ainda mais. Nesse entretanto vai continuar a falar comigo num modo gélido, e apenas para me
culpabilizar, ficando desta forma constrangido, frustrado e zangado com o mundo.
O mais
difícil para mim é vê-la a interagir com outras pessoas de uma
forma amorosa e queriduxa, enquanto que comigo é exatamente o oposto, roçando a brutalidade.
E mesmo que alguém visse a Cristina a tratar-me com a mais gélida frieza, iria
sempre pensar que seria uma justa reação ao que eu lhe certamente tinha feito.
Sei
que é assim porque já vi isso antes, nomeadamente em muitos casais. A maioria
já se separou, mas alguns ainda moram juntos, mas estes, claro que não são
casais. Já o foram. Agora são fantasmas.
É inegável que as
mulheres são implacáveis quando querem acabar com as relações. Por isso quando o querem, iniciam “O Plano!”
Quando
penso nesse Plano vem-me à ideia aquele ditado brasileiro “Se correr o bicho
pega, se ficar o bicho come”…. Homem, nestes casos, faças o que fizeres
estás sempre lixado! Basta o Plano começar. E eu estou no meio dele....
Chego
a casa umas duas horas depois de ter saído. A Cristina está na cama a fingir que
dormia, e sei antecipadamente o que vai fazer e dizer….
“MERDA, ACORDASTE-ME!”
grita, olhando-me com olhos cansados de ler, não de ter estado a dormir. “Podias ao menos ter
feito menos barulho! Mas afinal que horas são?” pergunta a si própria
em voz alta, como se não soubesse com precisão as horas.
“Desculpa, ‘mor”,
respondo com os olhos a rebentar de rir….. é que quando estamos a ver um filme
pela centésima vez, antecipamos os diálogos, e nem sei porquê, dá-me
vontade de rir, mesmo que a situação (já) não tenha graça nenhuma.
Deito-me
sem lhe tocar e sem sequer lhe dar um beijo de boa noite, como dantes sempre acontecia. E sei que esse "esquecimento" será mais uma acha para a gigantesca fogueira onde estou a ser queimado.
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