Mas voltando à videoconferência…..
Como habitualmente, partilhei com
a Teresa a lista de oradores. Ela olhou com atenção e aprovou-os tacitamente,
pois nada disse. Limitou-se a devolver-me a folha.
Depois entreguei-lhe a lista dos
participantes, aqueles que apenas podem intervir ou questionar, enviando um
email, e ela reparou logo que no extenso grupo havia uma ex minha no grupo.
Pior que tudo, na tal lista
constavam os nomes de duas amigas minhas, de longa data, e que para ela eram
muito suspeitas – ou seja, fazia grandes cenas de ciúmes quando sabia que tinha
falado com alguma delas.
- Jorge, o que é que estas gajas
estão a fazer ali? O que é que elas querem? Como souberam disto? E questionava-me
com as mãos nas ancas, o que significava grandes sarilhos.
- Teresa, por favor não armes agora
uma cena que eu tenho de fazer uma vídeo chamada com um dos oradores e preciso
de estar bastante calmo.
- Claro que sim, amor! É que nem te
incomodo mais. E apanhando a mala, bateu com estrondo a
porta da rua.
Para mim era preferível ela ter
continuado ali, a questionar-me. Ela sabia bem que sair porta fora, zangada
comigo, e ainda por cima acompanhada de um sarcástico “amor” era para mim altamente enervante. Desisti de falar com o
orador.
Quando ela voltou, uma ou duas horas
depois, eu encontrava-me numa grande azáfama, pois estava a minutos de se
iniciar a videoconferência. Ela tocou-me levemente no ombro e piscou-me o olho.
Reparei que ela estava a ligar o
seu portátil no quarto, pois era uma das participantes. Achei-a calma e
acalmei-me.
Tudo estava perfeito.
Começou a videoconferência. Senti
que todos os oradores estavam fortemente determinados em que a sessão fosse um
sucesso.
Como moderador, estava atento a
todos os pormenores, incluindo ler as questões e mensagens dos participantes,
direccionando-as para quem considerasse mais capacitado para responder ou
comentar.
Já mais de metade da
videoconferência tinha decorrido quando uma das oradoras, aspirante a mais
protagonismo, e de seu nome Virgínia, resolveu brilhar.
Começou a falar com ainda
melhores argumentos e com mais emoção. E o tempo que falava começou a
ultrapassar o dos outros todos juntos. E claro que isso não passou despercebido
a ninguém.
Compreendi que dado o evento estar
a ser um sucesso, a Virgínia sprintar, tal como o faria se estivesse numa
maratona e quisesse ganhar a corrida.
E na sua ânsia de se destacar, e
não querendo perder oportunidades, começou a insinuar-se a mim como moderador e
organizador, falando em encontros de trabalho de preparação para futuros
eventos.
Eu sorria para a câmara, pois era
mesmo isso que eu queria. Queria competição e audácia.
Confesso que sempre a admirei o
trabalho da Virgínia e por isso tinha insistido para que ela participasse como
oradora e não como participante.
Mas a coisa começou a descontrolar-se
um pouco, pois nós os dois começamos a trocar elogios um ao outro, e eu parei de
ler e direccionar as questões e comentários dos participantes aos restantes
oradores.
Pior. Quando as lia, comentava apenas
com a Virgínia, como se só estivéssemos os dois no mundo. E como isso,
naturalmente, fui perdendo o interesse dos outros oradores, e também de alguns
dos participantes.
Notei de súbito a armadilha em
que tinha caído! Estava a flertar com a Virgínia em frente a todos. Incluindo
da Teresa!
Tinha de decidir depressa o que
fazer.
A primeira hipótese foi de voltar
ao contexto inicial, devolvendo o protagonismo aos restantes oradores,
recolocando a Virgínia no seu devido lugar.
Imediatamente refutei mentalmente
a hipótese.
- Fui estúpido mas os outros oradores
não o são, e já não vão pegar na palavra, pois estão sentidos. Tenho de ir depressa
para um plano B, pensei.
Sabia bem o que tinha em casa e
imaginei que a Teresa nessa altura já andava a “cuscar” as páginas da Virgínia no Face, Instagram, Twiter, etc.
Os ciúmes da Teresa pela Virgínia
já deviam estar no “ponto”.
Arrisquei. Ia tornar aquele
evento memorável! E a Teresa iria ajudar-me. Ai se não ia!
- Virgínia, os comentários que
tem feito até agora só são superados por uma única coisa, disse, sorrindo,
perante a camara.
- E que coisa é essa, Jorge? Retrucou
imediatamente a Virgínia, também sorrindo….
- A sua espantosa beleza!…. e para
nem falar do seu enorme charme…..
Pelo ecrã consigo ver o que a camara
estava a captar atrás de mim, e vejo a Teresa a sair do quarto e a dirigir-se
rapidamente para onde eu estava.
E ao vivo e a cores, a camara
regista o preciso momento em que ela me acerta com um forte estalo na cara. Uma
e outra vez. Com todos a ver….
- A sério, Teresa? Estás a ter
uma cena de ciúmes aqui e agora? Mesmo no meio da minha Videoconferência? A
sério? A SÉRIO?
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