Num
impulso, um pequeno escorpião percorreu uns metros, afastando-se de mim. Observo-o
pelo canto do olho. Era negro e tinha o seu espigão levantado. Se não soubesse
ser impossível, diria que ele estava assustado. De certeza que esteve a observar-me,
pois para ele sou um bicho estranho e grande, que tinha invadido o seu
território.
Ignoro-o por uns
momentos. No frio da noite, e perante o tremular das chamas da minha pequena
fogueira, tudo fica aos meus olhos irreal, excepto as estrelas.
Deito-me de costas
na areia. O céu subjugava-me com a sua imensidade de pontos estrelados, de diferentes
cores, tamanhos e luminosidades. Por vezes, como se não bastasse já o magnifico
espectáculo presente, estrelas cadentes atravessam o meu campo visual. Tento
mas não consigo saber a razão por nunca mais me ter maravilhado com este
espectáculo. A não ser viver numa cidade cheia de luzes e de prédios, onde,
mesmo que olhe para o céu, não vejo as estrelas: Não como as vejo aqui.
Fecho os olhos por
momentos mas as estrelas continuam numa dança íntima e sensual em fundo
aveludado. O meu corpo parece flutuar e subir, em direcção ao abismo luminoso,
adoptando posições de flor de Lotus ou de Esfinge. Percorro o Universo em
pensamento, maravilhando-me com os seus mistérios.
Quando retorno à
Terra vejo o meu querido escorpião negro a olhar para mim, curioso, como a
questionar-me “Então gigante, ainda não
te foste embora?”Sento-me. Não sinto repulsa nem medo daquele escorpião. É
estranho, porque sempre foi esse o meu sentimento perante este tipo de animal.
Mas não com aquele e não sei dizer porquê. Talvez porque ainda estou sob o
efeito da beleza do espectáculo proporcionado pelas estrelas. Talvez por ele
ser a minha única companhia.
Os escorpiões são
destituídos de medo, excepto talvez, do fogo. E pouco mais se sabe deles, a não
ser que são tão velhos como o mar, das mais antigas espécies a vogar neste
Mundo, como se fossem fósseis vivos. Tenho a certeza que quando o último Homem
cair, ainda cá andarão escorpiões. A olhar pelas Estrelas.
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