Numa
sereníssima manhã de Outono, estando o gato da casa deitado no parapeito da
janela do escritório, chegou de mansinho um raio de sol afoito, que quebrando
as regras desse período chuvoso, resolveu entrar nesse mundo estranho.
Sem mover um
único músculo, Bistek, o tal gato da casa, abriu um olho, apenas um, que era
mais do que suficiente para se inteirar de que a ordem por ele estabelecida na
divisão se mantinha respeitada.
Nada se
passava, excepto a entrada do raio de sol, que liberto das suas amarras
maternas, se entretinha numa juvenil e solitária dança, com voltas e piruetas,
rodopios para um lado e para o outro.
Bistek
estava agora com os dois olhos abertos. A cabeça pendia ligeiramente para a
frente, plenamente absorto e interessado na frenética dança. Não parecia pronto
a saltar para o parar, mas antes estava surpreendido pela ousadia daquele raio
de sol. Mexeu as orelhas, em busca de um qualquer som. Nada. O visitante,
apesar de contente, não falava nem cantava. Pior, mesmo com essa actividade
física extenuante, não mostrava sinais de respiração ofegante. Bistek estava
agora plenamente interessado. O corpo estava retesado, como uma mola pronta a saltar,
as garras traseiras tocavam levemente o parapeito, prontas para o salto. O
coração bombeava a adrenalina resultante da excitação do momento.
O raio de
sol estava longe de saber das intenções de Bistek. Gozava a sua liberdade
merecida após séculos incontáveis dentro da Mãe Sol. Lá, na sua casa, apenas
havia um calor infernal e nunca se passava nada de extraordinário nesse mundo
de raios vibrantes. Por isso, quando permitiram a sua visita à Terra, o seu
rosto iluminou-se de felicidade, e partiu extasiado, rumo à Terra, à descoberta
de novas experiências.
Nessa altura
Bistek retesou ao máximo os seus músculos. Os seus olhos nada mais fitavam a
não ser o raio de sol, que inocente, rodopiava ainda mais rápido. As fracções
de segundo pareciam horas. Tudo se preparava para o inevitável….
Bistek
saltou. A sorte estava traçada. O raio de sol ia ficar destroçado pelas ferozes
garras assassinas. Num furor insano, o gato da casa aterrou….. não em cima do
raio de sol mas do tapete. A sua presa fugira!? Que se passou? Perguntava
Bistek. Para onde foi o raio de sol?
Num acto
misericordioso, uma nuvem atenta resgatou no último instante o raio de sol do
seu destino traçado! E este, sem saber do que tinha escapado, voltou
serenamente para casa….
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