Com
o susto decorrente da visão da sombra, fico hirto e firme, não me atrevendo a
mexer um único músculo, enquanto um frio gelado percorre-me a espinha, de cima
a baixo.
Vejo
o silêncio a ganhar vida, e todo o meu corpo está atento a todo e qualquer
ruído, como se direccionado num único sentido.
Afinal
as sombras lá de baixo não me estavam a ameaçar, mas sim a alertar do perigo,
mesmo aqui em cima…
Penso
na vida que tenho, que tive, que quero ainda ter, nos meus entes queridos e
naqueles que queria que o fossem.
Fecho
os olhos com força e nem sei porquê. Talvez para ouvir melhor, sentir melhor,
reagir melhor ao embate. Que não surge…
Fecho
os olhos com força e já sei porquê. Porque tento fazer que o medo desapareça,
que a sombra que se move que se afaste.
O
silêncio continua vivo e viçoso, não permitindo que nenhum som escape das suas
garras, e eu começo a sentir os meus pelos da nuca a eriçarem-se.
Sinto
o perigo a aproximar-se, sem indícios, sem som, sem movimento. Apenas o sinto e
cada vez mais próximo.
E
fecho os olhos ainda com mais força, desta vez para ver com a alma e com o
coração. Sinto o mal a aproximar-se e sei que nada irei fazer.
Quando
já me sinto baquear, ouço um barulho de gritos estridentes na rua e abro os
olhos, mas não me volto, com medo.
Sinto
que o perigo que me ameaça também escutou os gritos e que também parou a sua
aproximação.
Não
me reconheço, pois nunca tive medo de nada! Mas hoje, e logo hoje, sinto-me
estranhamente vulnerável a essa perigosa doença.
E
a realidade é que tenho uma ameaça dentro de casa e não tenho coragem de a
enfrentar.
Fecho
os olhos com muita força, ignorando os gritos estridentes que continuam lá fora!
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