Amor,
escrevo-te esta Carta por diversas e diferentes razões. Sei bem que não
é a mesma coisa estar a transmitir as mesmas palavras, olhando para os teus
olhos, mas, dadas as circunstâncias, não me resta outra opção.
O nosso início de relação foi, para ambos, como um lento
despertar, uma imensa espreguiçadela de duas pessoas que, estando muito bem
sozinhas, começaram a aperceber-se que essa não era a única via, a derradeira
solução.
E quando essas duas pessoas, autónomas e desembaraçadas,
felizes das suas vidas, se encontraram numa esquina da vida e descobriram, com
espanto, que estão melhor uma com a outra, só têm duas hipóteses, ou ficam
juntas ou ficam juntas!
E o Amor é lindo quando surge, e mais ainda quando
desabrocha. Parece que não há limites para o seu crescimento, qual Big Bang
que, de uma centelha explosiva tornou o Universo infinito. E era mesmo essa a sensação. O nosso Amor era
infinito.
Mas pessoas houve, daquelas que gravitavam à tua volta
como cometas errantes, que não desistiram tão facilmente de ti. E mesmo sabendo
que te consideravas minha, não descansei jamais.
Tu eras o Sol e eu a Lua, e juntos
reinávamos sob a luz e as trevas. E não havia hora do dia que um de nós não
estivesse no firmamento. Mas isso para mim já não era suficiente.
As trevas adensaram-se na minha Alma, vindas das
profundezas do meu passado, e os vírus do ciúme e da desconfiança alastraram, e
chegou a altura que até as tuas juras de Amor já só sabiam a fel, e não a mel.
Mesmo sabendo que me eras fiel desconfiei. E nesse
momento vimos claramente que as Sombras se adensavam e tornaram-se maiores que
a Luz, tapando o céu azul que sempre nos cobriu, e soubemos, com tristeza que
algo tinha de ser feito.
Sempre me disseste, que Amar é Confiar, mas mesmo assim, sei que Amei e continuo a Amar,
mas não confiei. Como a fábula do escorpião e do sapo, mesmo sabendo que
ambos morreríamos, feri-te de morte.
Mas agora sei que não era de ti, mas sim das Trevas, da própria Sombra,
do Passado que desconfiava. E sei também como sou e não mudo, nem
mudarei. Mas mesmo assim sei que te Amei. E Amo.
(Até) Sempre
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