sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Relações no Século XXI (2 de 2)

Assim, e sem ler nem escrever, ali estava eu a falar com a Sandra. Ou melhor, falava ela e eu só dizia que sim com a cabeça, pois o som estava tão alto que só lhe via os lábios a mexer. E que lábios, senhoras e senhoras. Encheram logo ali o meu imaginário de sensualidade. Eu já estava de quatro por ela.
Não imaginava nada do que ela falava, pois eu só via aqueles lábios a mexerem e aqueles lábios mexiam comigo. E comecei logo a vê-la com outros olhos, a imaginá-la na minha vida, e a assumir cada vez maior importância.
Eu continuava a dizer que sim com a cabeça, como se fosse um boneco de mola, pois já estava noutra dimensão, apaixonado, mesmo sem lhe ter ouvido a voz. E se a minha cabeça dizia que sim, a minha alma, também.
Sim, eu sei. Agora sei. Sou “parvo até à quinta casa” e mais além, se fosse possível. Mas se isso era pouco, devo acrescentar ainda mais pormenores a esta história, que agora me parece surreal.
Na única ocasião que tive pedi-lhe o número de telemóvel. Mas ela fez melhor pois apenas pediu o meu (não deu o número dela, mas isso nem sequer notei). E. levitando, pedi-lhe o cartão do bar e paguei-lhe a despesa. Isto estava a evoluir bem, na perspectiva dos dois.
Claro que a Sandra não me ligou nos dias seguintes, mas eu não perdi a esperança. Assim, o meu elo de contacto para com a Susana passou a ser a sua amiga, Graça, e passei a ser ainda mais amigo do meu amigo P., pois sem ele passaria a estar perdido no mundo, pois nunca mais encontraria a Sandra.
E como fiquei animado quando soube que o P e a Graça se iam encontrar, no mesmo bar, e que ela ia levar a Sandra e o P me ia levar. Parecia que eles iam levar os cachorros a passear, mas eu não me importei. Não me importei mesmo nada.
Nessa altura, como bom cachorrinho, já tinha “fuçado” o Face do P à procura da Graça e o da Graça à procura da Sandra. Bem podia procurar, pois, soube depois, a Sandra tinha posto o seu segundo nome e com uma fotografia de quando era criança. Não achei estranho.
Claro que não se acha estranho a nada quando se é tão burro como eu. Essa noite foi fantástica, pois declarei o meu amor incondicional à Sandra, ao que ela me disse ao ouvido “Olha, não percebi nada do que disseste. Vou à casa de banho. Toma conta da minha bebida”.
Os nossos progressos como casal foram fantásticos. Após mais umas saídas a quatro, e enquanto o P e a Graça falavam no futuro, eu consegui que a Sandra me ligasse para o telemóvel para poder ficar com o número dela. E nem queria acreditar na minha sorte!
A partir daí, fomos os dois jantar fora inúmeras vezes. Ela recusava-se a ir a minha casa, e eu também nunca fui a casa dela. E nem sequer podia saber onde era. Achava eu que tínhamos começado a namorar, mas era um bocado estranho, pois perante os meus olhos e de quem nos visse, não havia nenhum indício disso.
Desde o início que me senti um bocadinho posto de parte, especialmente no mundo virtual, pois ela postava apenas fotos das suas saídas (sem mim, claro) no Facebook e no Instagram, especialmente com os seus amigos manhosos. De mim não havia o mínimo vestígio.
Quando falava com a Sandra acerca de nós, invariavelmente ela dizia que “Depois se vê, e agora deixa-me sossegada”, e voltava às mensagens e a rir-se sozinha. Mas eu estava cada vez mais caidinho por ela.
De repente, tudo mudou, pois a Sandra começou a ver-me com outros olhos porque os seus olhos viram-me com outra mulher. Era apenas a minha vizinha de baixo, que por acaso nos cruzámos na Av. de Roma, mas que para a Sandra passou a ser uma ameaça grave aos seus planos. Eu nem imaginava que ela tinha alguns....
A partir desse momento as coisas entre nós partiram para outro nível, e começámos a namorar mesmo a sério. Eu fiquei ainda mais entusiasmado, mesmo sem saber a razão de tamanha reviravolta. Só soube muito tempo depois, como é habitual na minha vida.
Se eu e a Sandra não tivemos nenhum futuro sério foi porque ela não quis. Ela dizia sempre que sabia que eu gostava muito dela, mas que ela não era mulher para casar e ter filhos, que gostava era de boa vida, de ter a sua liberdade, de sair sem dar satisfações a ninguém. Vocês sabem.
Devem estar a pensar “Coitado, tanto investimento passional para nada”. No fundo compreendi o que ela queria, e como gostava dela, fiz-lhe a vontade. Fiz-lhe mesmo todas as vontades. Até ao mínimo e ínfimo pormenor.
Bem, e rematando a história para não vos maçar mais, acabei por casar com a Graça e temos dois filhos, o Luís e a Filomena. E mais feliz não posso estar, pois tenho tudo o que sempre quis ter. Amor e estabilidade emocional.
Eu e o P continuamos a ser muito amigos, sendo ele visita muito assidua de minha casa, e inclusive é o padrinho do Luís. Nós escolhemo-lo por eles os dois serem muito parecidos fisicamente. Mesmo muito, e até me meter impressão. Estranhamente, a Graça não os acha nada parecidos.
E eu? Eu continuo a andar com a Sandra. E com a vizinha de baixo também, pelo menos até a Graça me desmascarar a sério e "pôr-me os patins", tal como fizeram todas as anteriores.
Ao contar-vos esta história fiquei seriamente desconfiado que é por eu ser assim que as mulheres da minha vida me deixaram sempre pendurado….

Estas mulheres são mesmo umas desgraçadas sem coração!!!

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