Se
encontrasse perdida a lâmpada mágica do Aladim, um dos desejos que decerto pediria
era saber de onde vêm as sensações tipo sexto sentido, as tais que fazem soar
as campainhas de alarme, boas ou más.
Felizmente
que a mente humana ainda deixa emergir, de tempos-a-tempos, uma vertente
instintiva, límbica, oriunda da ancestralidade, mostrando que há mais em nós
que a pura e dura racionalidade.
Mas isso
será por pouco tempo, garanto. A racionalidade galga terreno a cada dia que
passa e as novas tecnologias farão com que soará a estranho algo não explicável
pela Siri, como ter sensações de que há algo errado.
Noto que dia
para dia somos mais programados, lógicos, cerebrais, estupidamente humanos. As
nossas decisões são pensadas, pesadas e calculadas, nada instintivas nem deixadas
ao acaso, ao universo, a nós mesmos e das nossas sensações inexplicáveis.
Por vezes
penso que por vezes penso por mim. Tolo. Tudo é pensado por mim. E por ti. E
por eles, e nada é deixado ao acaso a bem da sociedade em que estamos mergulhados.
E é através da tecnologia que tudo agora se processa.
A natureza
já não faz parte de nós, e nem nós dela. Apenas a contemplamos quando estamos
para aí virados, mas por breves momentos. O importante é olharmos para o
vidrinho pois é lá que está o mundo. O nosso foco agora está no rectângulo.
O vidrinho
mostra onde estão as pessoas importantes, sejam para mim ou para ti, é onde se
sabe ao segundo o que se quer que se saiba que se passa. É através dele que
estão os jogos, a música, as mensagens, os e-mails, as fotos e os vídeos, ou
seja, a vida.
Vejo um
menino de três anos a ver vídeos no Youtube. É que os seus amigos estão em todo
o lado menos onde ele está, a brincar sozinho com o seu vidrinho.
Vocês nunca
estranharam a destreza como os bebés utilizam os vidrinhos? Eu fico abismado. É
como se tivessem utilizado aparelhos desses no ventre da sua mãe. E não me
venham dizer que é fruto da aprendizagem de observação.
Nas próprias
refeições já não temos interacção com os nossos pequenitos, sejam em forma de
histórias, canções, palhaçadas ou mesmo televisão. Agora só passamos um
vidrinho para as suas mãozitas. As consequências das alterações nessas crianças
são inimagináveis. E algumas não serão certamente boas.
O mundo
mudou e estamos todos conectados uns com os outros. Podemos falar com todo o
mundo. Mas não falamos. Conversamos cada vez menos, presencialmente, e agora
também falamos menos telefonicamente.
A vídeochamada falhou com imenso estrondo. Os futuristas previram que as comunicações passariam
da voz para a imagem. Errado. Foi da voz para o texto. Regredimos. Mais um pouco.
Agora
comunicamos quase exclusivamente por mensagens utilizando o Whatsapp ou o
Messenger, mas provavelmente não vamos ficar por aqui.
É que das
mensagens escritas estamos a passar rapidamente aos emoticons, a representarem as emoções que
queremos passar aos outros. Sem palavras nem emoções reais.
Afinal
o que nós não queremos é deixar transparecer aos outros as nossas reais emoções!
Daí não querermos que ninguém nos veja, nos ouça e cada vez menos nos leia.
Se o Pessoa voltasse a este mundo decerto
ficaria verdadeiramente espantado com esta (falta de) comunicação, mas decerto
que rapidamente alinharia no jogo. E como faria sucesso a utilizar o vidrinho!
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