... dei mais uns passos quando de súbito ouço um barulho. Parei. Na quietude da noite não esperava ouvir nenhum som.
Era claramente um sinal de que não estava sozinho. Um aviso de alguém ou de alguma coisa que queria mostrar a sua presença.
Mas quem no meio da noite se quer mostrar, a não ser que seja um predador, para assustar a sua presa?
Andei ainda mais uns passos, sem saber se deveria andar para a frente ou para trás, e já com o medo a morder-me as canelas ...
De súbito, deparei-me com a Fera. Ali estava ela, mesmo à minha frente. E não podia fugir nem esconder-me....
Só me lembrava da canção "se correr o bicho pega se ficar o bicho come".
Tão perto estava dela que o seu hálito quente e húmido bafejava-me a cara, mas esta não me atacou, antes, aguardava....
Quando os seus olhos em brasa me encararam baixei os meus, não fosse enfurecê-la ainda
mais, como se isso fosse possível.
Confesso
que nunca entendi porque as feras não atacam logo, antes esperam alguns momentos antes de investir sobre a sua presa.
Imagino que seja porque aumentam ainda mais o medo no outro, e asseguram a vitória, mesmo
antes de se moverem.
De repente paro nos meus pensamentos e sinto-lhe os músculos a retesarem como se estivesse a ser puxados por uma mola, prestes a
disparar.
Por um canto do olho vejo tudo mas
por qualquer razão obscura fico completamente imóvel, impossibilitado de
esboçar qualquer reacção, de defesa ou de fuga.
Parecia
que tinham decorrido minutos ou mesmo horas. mas não, foram escassos segundos desde a
percepção um do outro, a troca de olhares e a assunção de quem era a presa e o
predador. Até agora, ao climax!
O inevitável estava prestes a dar-se….. já ouvia o rufar dos tambores de guerra e quase sentia a minha pele e a minha carne a serem retalhados quando ....
... num
último e profundamente estúpido acto de cobardia e numa vã tentativa
de não ser devorado logo ali, balbuciei algo numa língua vagamente parecida com o português...
... e num tom arrastadíssimo, mas que para mim soou-me bem legível e escorreito, disse…
... e num tom arrastadíssimo, mas que para mim soou-me bem legível e escorreito, disse…
“Amor
só fui beber uns gins com uns amigos e nem sei que horas são desculpa Amor não sabia que estavas acordada ou acordei-te desculpa Amor mas sabes
que te amo muito não sabes Amor?”
Realmente era muito tarde. Realmente
era tarde demais…
Sem comentários:
Enviar um comentário