Imagino sempre este "mundo" como um conjunto de portais, como se fosse um FarmVille com pessoas em vez de vaquinhas, porquinhos e hortinhas virtuais.
Nestes portais reparo que há nicks
que estão sempre lá, como se a sua vida fosse efetivamente essa. Cresce-me a sensação de ali não haver vida real e de nem me conseguir aperceber por vezes que são pessoas
de verdade. Mas são. Pelo menos acho que sim.
Reconheço alguns nicks pela sua originalidade. Sim, que criar um nick decente e que fique na retina
requer um conjunto de predicados que não está ao alcance de qualquer um. Fala a
voz da experiência: bem tentei e não consegui.
Mas hoje vim cá porque
estou com uma sensação diferente e não a sei explicar por palavras. Deixo-me ir. Normalmente
quando o meu corpo pede um determinado alimento eu ouço-o e correspondo logo que possa. Essa comunicação é demasiado instintiva e animal para a ignorar. E a sensação de hoje tem fortes semelhanças.
Percorro novamente a
lista de nicks, desta vez com mais atenção. Nada. Estou prestes a
desistir mas algo me impede a mão de carregar no off do portátil. Estranho.
Quase que ouvia “Olha a lista, olha a lista novamente, meu imbecil!”.
Quase a contra gosto percorro mais uma vez a tal lista. “Imbecil porquê? Não
há aqui nada!” Penso.
Olho novamente e vejo de
repente um nick esquisito que nunca tinha visto e nem consigo descortinar o
seu significado ou origem. Fico sem saber o que pensar.
Fiquei logo com a certeza absoluta de ter visto aquele nick na lista, uma e outra vez, tal como o vi agora, mas parecia diferente, como que escondido dos meus olhos porque ainda não estava na altura de reparar nele. Só quando fosse o momento. Que aconteceu agora.
Um sentimento único e
novo percorre todo o meu ser. Surge um silêncio súbito - a minha voz interior
cala-se, como que a dizer “Sim, é isso.” e reparo que o tempo
entretanto pára e tudo fica em suspenso. Por quanto tempo não sei dizer mas nada ouço e nada se mexe. A sério.
Observo com mais atenção
o nick. É-me completamente desconhecido mas por alguma razão imensamente familiar. Não consigo explicar essa incongruência,
mas aceito-a. Só tive uma sensação semelhante e foi quando ouvi pela
primeira vez um nome de uma cidade e ela soou-me como se fosse a minha terra
natal. Não a fui visitar. Ainda.
Não sei o que escrevo.
Talvez uma mensagem de boas vindas em marciano, ou então uma frase banal.
De
Marte ou sei lá de onde a resposta não tarda. Aturdido abro os olhos de
espanto. Garanto que não sei o que responderam de volta, mas
não é importante. Sinto que nada mais importa pois o sentimento que me invade é intenso, envolvente, único, verdadeiro. Não consigo explicar nada. Decerto
nunca o conseguirei.
Ela estava à minha
espera do outro lado, e aguardava. Algo a impedia de se ir deitar pois as
instruções que invadiam também a sua cabeça eram claras: “Aguarda mais um
pouco. Tem paciência.” E estas eram para respeitar, talvez por serem
tão inusitadas, ou por serem tão afirmativas.
Ela não viu o meu nick
entrar. Ela não estava atenta às entradas e às saídas, nem se preocupava com
quem lá estava, habitual ou não. Pediram-lhe para aguardar e não para agir. E
ela esperava. Sim, esperava.
Quando a minha saudação inicial lhe apareceu no monitor, foi como se uma mensagem de completa serenidade
e familiaridade se tratasse, não de uma intromissão de um desconhecido
qualquer. Ela sentiu instantaneamente que era o que tanto esperava. És tu! Eu conheço-te e tu
conheces-me. “Olá!”respondeu, de seguida.
Imediatamente tive a certeza do que já sabia no íntimo. Sim, és tu. Eu também te conheço, desde sempre. “Olá também para ti….. Amor. Até que
enfim!”
Sem comentários:
Enviar um comentário