Um brutamontes lá da
escola estava prestes a maltratar a rapariga dos meus sonhos, que jazia no chão
do recreio da escola, meio aparvalhada com o sucedera, especialmente o meu acto
de coragem. E para minha surpresa notou que era eu o seu salvador, sorrindo-me.
Claro que não tardou que eu
levasse uma “surra das antigas”, pois o André, o grande e gordo André tinha
fugido porque julgara que era um grupo que o estava a ameaçar, e não um
franganito sozinho, armado em herói, defensor das meninas, chamado Carlos.
Cheguei a casa nesse dia bastante
amassado, para aflição da minha mãe e da cara zangada do meu pai, que me disse
solenemente “filho meu não entra em casa a dizer que lhe bateram, mas sim que se fartou de bater!”
Ainda tentei dizer ao meu
pai que “eu bater bati-lhe, mas foi poucochinho…”, mas achei que não
valia a pena, pois até falar me doía, e só queria ficar sossegado para ver se
no dia seguinte conseguiria ir direito para a escola.
Jurei para mim mesmo que
não me iria mais meter em brigas por garotas. “É que não vale a pena!”.
E assim adormeci. Mas lembro-me perfeitamente que, apesar desse juramento,
sonhei a noite toda a ser um herói, a derrotar os maus e a receber beijos das
miúdas.
Miúdas? Não! Não eram
beijos de umas miúdas quaisquer, mas apenas da dos meus sonhos. Acho que nasci num tempo
errado, pois sou uma mistura esquisita de cavaleiro andante medieval e de
romântico do século XIX.
Estão a ver as ideias tolas
do D. Quixote? Agora misturem-nas com a dos românticos e o resultado é: “As
mulheres são umas preciosidades tais que deviam viver numa redoma de vidro,
afastadas e protegidas de todo o mal!”
E quem é que “safaria”
as senhoras e senhoritas de todo o mal? Eu, claro! É que apesar do juramento da
outra noite, continuei a meter-me em todas as brigas que implicassem a defesa
de elementos do “sexo frágil”, apesar da minha fraca figura e de,
reconhecidamente, “nem ter cara para levar um estalo”.
Sinceramente não sei como
me tornei assim. No fundo acho que sempre fui “menino da mamã”, apesar
de o negar veementemente quando me diziam tal coisa. E por isso fui levado a
pensar que os elementos do sexo feminino eram muito frágeis, carecendo da minha
protecção.
“Que estupido eu era. Bem, e continuo
a ser…”, penso, tantos anos passados e tão farto das coças que tenho
recebido das mulheres, ao longo desta vida. É que se a maioria das mulheres não tem corpo de homem para entrar em brigas, possui armas poderosas. E
usam-nas mesmo muito bem.
Quando paro para pensar na
minha vida, recordo episódios que me fazem sorrir e outros que me fazem
espantar pela minha ingenuidade e quiçá, grande estupidez. E são essas histórias
que me proponho contar-vos. Se para isso estiverem dispostos, claro.
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