Tenho
um casamento estável há décadas, e com filhos já adultos. Adoro a minha mulher, Glória,
e sei que ela me adora. E só por aqui vocês vêm que já tenho muitos, mesmo
muitos motivos para estar satisfeito com a minha vida.
O
meu melhor amigo sempre foi o Nuno. Crescemos juntos, estudámos juntos,
namorámos juntos com duas amigas de juventude, com as quais viemos a casar e a
ter filhos. Moramos ao lado um do outro, e tornámo-nos mais irmãos de facto do que
a maioria dos irmãos ditos de sangue.
Todos
os anos nós e as nossas famílias passamos as férias juntos, e raros são os
fins-de-semana em que não estamos na casa uns dos outros. A vida corre-nos bem
a ambos, e desconfio que qualquer dia ficamos unidos por sangue, tão bem os
nossos filhos se dão.
Há
alguns anos, fomos ambos seduzidos pela mesma empresa e pelo seu projecto aliciante. E pesou muito o facto de assim passarmos a trabalhar juntos. Desta forma estreitamos ainda mais os nossos já profundos e fortes laços.
Um
dos defeitos da mente humana é que raramente fica muito tempo satisfeita com o
que tem, mesmo que seja muito e bom, e assim, procura mais, melhor, ou apenas diferente.
Um
dia, o Nuno não almoçou comigo e nem me disse
nada, mas como não almoçávamos todos os dias juntos, não relevei.
Nessa tarde, o Nuno enviou-me uma mensagem lacónica a avisar que tinha de sair
mais cedo. Fiquei preocupado quando cheguei a casa e não
vi o automóvel dele estacionado, pois pensei que ele poderia estava a passar por alguma situação complicada, e esperei que ele me dissesse algo sobre o assunto.
Passou
mais de uma semana sem lhe ver a cor dos olhos, parecendo sempre muito
atarefado. Ainda pensei que ele estivesse
integrado nalgum projecto novo, mas achei estranho, pois eu teria sabido
antecipadamente.
Mas
não demorou até saber o que se passava com ele. Ia eu almoçar com um cliente e
amigo num restaurante da moda, quando deparei com o Nuno, com a mão sobre a mão
de uma jovem, que reconheci como nossa colega, numa mesa isolada. E ele parecia bem e feliz, de acordo com o brilho dos seus
olhos.
Senti
a lâmina de uma faca fria a subir pela minha espinha acima, e de tal modo
fiquei tenso que o meu cliente e amigo colocou a mão por cima do meu ombro e
disse “Estou a ver que não sabias de nada, mas ele tem vindo aqui, bem
acompanhado como vês, com alguma frequência.”
Estava
explicado o comportamento dele. O Nuno
tinha uma amante! E tenho de confessar que os meus pensamentos não foram
para a mulher dele, minha amiga, nem para os filhos deles.
Só
pensava que “se ele não me contou, é porque não confia em mim”. E senti-me verdadeiramente traído!
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