Confesso que nunca acreditei muito nessa teoria. Soou-me sempre a propaganda dos anos 30 e 40 do século XX, pelo toque de povo escolhido. Aliás, esses anos foram férteis em situações dessas. Todos os povos eram especiais e únicos, e os seus líderes escolhidos por Deus. Isto não aconteceu só na Península Ibérica mas por todo o Mundo, em que a história era recontada vezes sem conta, sempre adequada ao momento político. Era a história ao serviço do poder vigente.
Estaline foi
um mestre na arte de reescrever a história. Os seus antigos aliados políticos
caídos em desgraça eram retirados dos livros de história e das referências
escritas, fotográficas ou de filme. Ninguém poderia voltar a falar deles. Era
como nunca tivessem sequer existido
No seu livro
“1984” George Orwell retractou
de uma forma magistral a necessidade das ditaduras de reescreverem a história. Neste
livro as potências vizinhas, conforme fossem aliadas ou inimigas, eram
representadas como anjos ou como demónios. Se a situação se alterasse, ou seja,
se a potência aliada passasse a inimiga, o passado era reescrito de acordo com
a nova situação. O anjo caído era agora um demónio. Os que eram povos irmãos
até aquele dia tornavam-se inimigos desde sempre. Era o branco e o preto. Não
havia cinzento.
Os Estados
Unidos e Cuba estão agora mesmo a reescrever as suas respectivas histórias. Os
americanos estão decerto a suavizar as frases sobre Cuba nos livros de
história, de forma a que o antigo “feroz ditador Fidel Castro” seja agora
retratado como um homem apenas ligeiramente
obstinado. Politicamente convém não afrontar o ditador que seguiu a Fidel:
o seu irmão Raúl.
Decerto que para os verdadeiros revolucionários cubanos (e um pouco por toda a América do Sul) também lhes soará mal a nova situação. Sem mais nem menos, o antigo “Grande Satã americano”, eterno inimigo da revolução castrista, abre embaixada em Havana. Como estarão a ser alteradas nos livros de história cubana situações como a Baía dos Porcos e Guantanamo? E qual será agora o novo inimigo da revolução cubana?
Li algures que Fidel Castro fez há uns anos uma profecia, referindo-se decerto ao impossível: “Cuba e os Estados Unidos só se aproximarão quando houver um Papa for sul-americano e os EUA tiverem um presidente negro.” E não é que o homem acertou?
Na minha opinião, esquisito mesmo é ver um líder de um regime comunista ter o dom de premonição!
Sem comentários:
Enviar um comentário