quarta-feira, 3 de março de 2021

A Minha Pandemia Privativa

 



Até finais de 2019 a maioria das pessoas nunca tinha ouvido falar da palavra pandemia. Eu já sabia o que era, mas só de ler nos livros de história.

Nas descrições da história da humanidade, há sempre menos referências às pandemias do que à vida dos poderosos.

Vê-se bem que a doença, a fome e a morte das pessoas comuns nunca mereceu destaque, pois sempre foi a regra, nunca a exceção.

Tenho atravessado esta pandemia de uma forma quase singular, pois tenho ido trabalhar todos os dias, estando fisicamente no mesmo local de trabalho, a fingir que nada se passa.

Ver a sala sem colegas, os edifícios desertos, os passeios sem pessoas e as lojas e restaurantes encerrados, mexe comigo, e não há maneira de me habituar.

Confesso que por vezes sinto-me, no meu local de trabalho despido de pessoas, como se fosse “o último homem na Terra”, e acreditem, não é uma boa sensação…

Acredito que as pessoas que estão fechadas em casa, por razões inversas às minhas, também estão mexidas. E algumas, mesmo muito.

Pergunto-me se os confinados estão desejosos de sair ou, inversamente, vão continuar com receio de estar com outras pessoas.

Dizem que é para breve que vamos todos sair de casa, respirar sem máscara, viajar, abraçar e falar de outros assuntos.

O que não dizem é que bastará um boato de que anda outro vírus a circular para que todos se voltem a refugiar nas suas casas, em pânico.

É que se “gato escaldado de água fria tem medo”, os humanos são muito piores que os gatos.

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