O
olhar dela para mim foi um misto de surpresa divertida e de susto, mas reparei
que só ficou completamente descansada quando me viu com os dois pés fora do
metro, e com as portas da carruagem a fecharem-se, pesadamente, atrás de mim.
“Olá.
Eu sou a Elsa. E tu, curioso, quem és?” E estendeu-me a mão, um pouco
acima do normal, para um aperto de mão.
E eu
pensei “Para ti o curioso sou eu? E como te chamarias a ti própria? Super
cusca?” Mas ignorando o pensamento, e limitei-me a apertar-lhe a mão e
dizer o meu nome, num tom de barítono. “Silas”.
Reparei
que ela sorriu ao ouvir o meu nome….. Ela tinha as mãos frias. Devia ser por
ter um coração muito quente….Por momentos pensei nela como uma vampira e que me quisesse
sugar o sangue. Mas se ela me pedisse com
jeitinho eu até deixava.
E ali
ficámos, parados, na plataforma do metro, entre passagens de composições e
gente sem fim a entrar e a sair. Com tanto barulho começámos a falar ao ouvido
um do outro, como se estivéssemos num bar.
Visto
que eu não tomava a iniciativa para sairmos dali, a Elsa pegou suavemente a
minha mão e disse “Vamos!?”. E eu fui. Eu já vos tinha dito que a seguiria até ao
fim do mundo? Acho…
Eu limitei-me
a caminhar ao lado dela como se fosse um zombie. Apenas olhava para ela, como
se estivesse anestesiado, e não reparava em mais nada. Talvez fosse porque mais
nada me interessava, naquele momento.
Saímos numa estação do metro e nem me lembro qual o seu nome, e caminhámos numa “boca do metro” mas juro que nem sei se subi escadas, rampas ou escadas rolantes…..
Eu,
serenamente, ia com ela, como se fosse a única opção que tinha, como se fosse a
única coisa que tinha de fazer. Apesar de ter plena consciência do que estava
a fazer….
Não
falámos até o sol nos cegar completamente, à superfície. E quando a vi totalmente banhada de luz,
parei para prestar atenção a todos os seus pormenores, invisíveis para mim até
aquele momento.
E ela,
a sorrir, deixou-se mirar de todos os ângulos. E eu, a sorrir, mirei-a. Ela era
divertida, e para mim era divertido vê-la desta forma. Sem uma palavra, sem um
julgamento.
Num
repente, fechando os olhos fechados mas não o sorriso, levantou os braços e
rodou sobre si próprio, lentamente. Para que eu a visse. E eu vi-a, sorrindo.
Aquela
mulher pequena e discreta tinha nome, tinha voz, formas, cor, cheiro. Era agora
uma pessoa a sério, não mais um vulto com que me cruzo nos transportes
públicos, nos restaurantes ou nos centros comerciais.
E
mesmo sem a conhecer absolutamente nada, a partir desse momento ela ganhou uma
enorme importância para mim, pois tinha-me visto, reparado em mim, comunicado
comigo, e até tinha pegado na minha mão….
Senti
que ela era diferente de todas as mulheres que tinham passado na minha vida.
Ela era especial. Ela era a Elsa.
(continua)
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