Estou
sentado na carruagem de metro a olhar para o écran do meu telemóvel, alheado de tudo e de
todos, aguardando apenas chegar ao meu destino, sem interrupções e sem grandes
demoras.
Sinto-me
em paz comigo mesmo, apesar da tarde ter sido muito atribulada. Talvez este sentimento tenha a ver com os movimentos ritmados da carruagem do metro. Quem sabe? Mas na minha placidez nem me importa.
Os
últimos meses têm sido bastante complicados para mim, com inúmeras desavenças, discussões e desacordos. E como isso me tem desgastado imenso.
Farto-me
de ver sem nenhuma atenção as notícias do Sapo, do Observador, do El Pais ou da Globo e levanto os olhos. As pessoas estão tão alheadas como eu estava. Ainda bem,
pois desta forma nem reparam em mim, a olhar para elas.
Sempre
gostei de olhar para mulheres bonitas. Acho que desde sempre todos gostámos de olhar para o
belo. E eu olho não com desejo nem com inveja, mas apenas
com admiração pela beleza especialmente dos pequenos pormenores.
Num vislumbre fixo o meu olhar numa mulher pequena e discreta, e tão discreta é que nem reparei nela no
primeiro olhar, escondida na sua aura de invisibilidade.
Vejo que ela não se enquadra no meu conceito de grande beleza mas, por alguma razão por mim desconhecida, não consigo tirar os olhos dela.
Vejo que ela não se enquadra no meu conceito de grande beleza mas, por alguma razão por mim desconhecida, não consigo tirar os olhos dela.
Por fim, lá recuo
no meu olhar, com receio que me perca ou, pior, que seja por ela notado. Finjo olhar novamente
para o écran do meu telemóvel, mas este ri-se de mim e parece reflectir apenas
a face da tal mulher, pequena e discreta.
Inevitavelmente volto
o meu olhar para o seu rosto e perco-me nas suas rugas de tanto sorrir, e os meus olhos dançam ao ver
o seu rosto, que parece iluminado de felicidade.
E a partir desse momento essa tal mulher pequena, discreta, tornou-se linda aos meus olhos.
E a partir desse momento essa tal mulher pequena, discreta, tornou-se linda aos meus olhos.
Olho
em redor e vejo que ninguém reparava nela. “Serão cegos, ou serei eu?” É que ela transpirava uma tal beleza despojada que já me cegava
os sentidos.
(continua)
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