Ao ler este título decerto pensará que me estou a referir ao inverno da vida, que corresponde ao envelhecer. Hoje, pelo menos, não é esse o tema.
Abateu-se
sobre mim um inverno na minha vida. Cinzento, chuvoso e frio. Gélido mesmo.
Este
inverno surgiu sem eu me aperceber dele. Sem ter avistado as nuvens negras a
juntarem-se. Sem sentir o vento frio na cara. Sem aviso de espécie alguma.
Mas
ele dirigiu-se para mim, e com forças que só o inverno pode criar.
Quando
as primeiras bátegas de chuva gelada se abateram sobre mim julguei que fossem
uns meros aguaceiros, e que depressa regressaria o sol. Puro engano.
Quanta
ingenuidade tinha no meu ser. Julgaria eu que os ventos gelados eram apenas
dirigidos aos outros? Pensaria eu que escaparia nos intervalos da chuva? Que na
minha vida não existiria inverno?
Quando
me apercebi que afinal estava no meio da maior borrasca da minha vida, abri os
olhos ao céu e vi que o sol tinha desaparecido e que por cima de mim só estavam
nuvens, que se juntavam negras e ameaçadoras.
De
súbito compreendi que o inverno da minha vida tinha finalmente chegado. E que
não me adiantava nada maldizer o clima, a vida ou os outros.
O
inverno tinha chegado porque eu o tinha convocado. Nada mais simples do que isso.
E era plenamente merecido!
Eu
tentei resistir-lhe o melhor que pude e sabia. Por vezes neguei-o e
reneguei-o, mas isso só o fez prolongar por mais tempo e com maior intensidade.
É que o inverno não gosta de ser ignorado.
Quando
assumi que estava a passar pelo inverno da minha vida aprendi muito. A
respeitá-lo, a compreendê-lo, a lidar com ele, a resguardar-me e a proteger-me.
E
especialmente a não desesperar. E cresci....
Felizmente
tive ao meu lado algumas pessoas que me acompanharam nesta provação. A elas
dirijo o meu mais profundo agradecimento, pois incondicionalmente deram-me
calor quando eu gelava e luz quando não a tinha.
Infelizmente
não pude contar com outras pessoas, mas acho que o inverno das suas vidas
também lhes estava a bater à porta.
Sabia
que este estado invernal não iria durar para sempre, e essa ideia sempre me
animou, especialmente nos piores momentos.
Quando
escrevo estas palavras sentidas julgo que o pior já passou. Dizem que após a tempestade
vem a bonança e parece que não se enganam.
Olho
para o horizonte e vejo lá ao longe raios de sol a trespassarem as nuvens. A
chuva que caía incessante passou a aguaceiros ligeiros. E a temperatura está a
ficar amena.
Sinto
que o verão da minha vida está de novo a regressar…. E estou muito grato por
isso.