Uma das caraterísticas marcantes como seres humanos é de gostarmos muito de ter certezas, de sentirmos o solo firme, palpável e confiável debaixo dos nossos pés. Neste contexto, adoramos ter a certeza de que conhecemos muito bem quem connosco priva diariamente.
Se
perguntarmos a qualquer pessoa se conhece bem os seus pais, os seus filhos, os
seus consortes, os seus amigos íntimos, a resposta é invariavelmente, sim, sem
dúvida. Realmente, como não poderia conhecer extremamente bem qualquer uma dessas pessoas?
Ridículo, não é?
O nosso cérebro não funciona bem com incertezas, com dúvidas, com o desconhecido. Ele gosta das coisas bem arrumadinhas, das certezas, do previsível.
Assim, se nos perguntarem como é a
personalidade de determinada pessoa, dizemos sem qualquer dúvida, que “Essa
pessoa é assim!” Sem dúvidas ou hesitações. Só certezas.
Porém, certezas não há, só a nossa perceção em relação a essa pessoa. Apenas conhecemos a forma como ela interage
connosco, pois essa
pessoa pode ter ou tem, para uma situação ou contexto análogo, um
comportamento comigo e outro completamente diferente para com outra pessoa.
Então, como
ficamos? Conhecemos muito bem ou não essa pessoa? O mais certo é que, no máximo, podemos supor! Não temos certezas, pois não o observamos a tempo
inteiro e não estamos dentro da cabeça dele. Só da nossa.
Quantas vezes nos surpreendemos com a reação de uma pessoa, que afirmamos conhecer muito bem? Frases como “Não acredito que essa pessoa possa ter feito isso. Deve haver aqui algum engano”. Mas raramente há enganos. Ele fez mesmo isso pois, em parte, ele é assim, só que nunca tivemos essa perceção pois ele não o demonstrou.
Assim, apenas podemos prever uma resposta que alguém dará a um determinado estimulo e numa determinada situação, e apenas com base no histórico social comum. E isso não é conhecer bem ninguém. No fundo, só conhecemos o que o outro quer que seja conhecido por nós, e nada mais.
Já repararam que até os bebés têm comportamentos diferentes conforme as pessoas com quem eles privam? É que os humanos são verdadeiros mestres na adaptação, na camuflagem e no disfarce desde tenra idade!
E quantas vezes já ficámos surpreendidos connosco próprios, parecendo que não nos conhecemos, depois de termos nos observado a ter reações que consideramos esquisitas ou exageradas?
Assim, como podemos ficar admirados quando "descobrimos" que, afinal, não conhecemos verdadeiramente uma pessoa, se nem sequer nos conhecemos a nós próprios?