Desde criança me vi como um puto desconfiado, desconfiado que
o mundo estava unido para me tramar, e mais valia estar atento que ser apanhado
com os calções na mão.
Mais tarde comecei a desconfiar que o mundo tinha coisas mais
importantes para fazer, e eu próprio comecei a dedicar-me a outras coisas, já sem
olhar para debaixo da cama, onde se escondiam os monstros malvados de outrora.
Agora sei que o mundo está muito entretido noutras coisas,
não necessariamente naquilo que deveria, mas enfim, não posso querer tudo, pelo
menos por agora.
Mas como quem nasce torto tarde ou nunca se endireita, continuo
por vezes a desconfiar que continuo o mesmo puto desconfiado, pelo menos até
conhecer bem o chão que piso.
Neste período da minha vida em que tudo parece correr “benzito”, vejo-me por vezes a olhar para
trás e a recusar baixar a guarda.
Será que serei sempre o mesmo puto desconfiado que quando a
esmola é muita o pobre desconfia? Parece que sim.
Não sou de ficar à espera que o universo ou um qualquer
mecenas me resolva os problemas, como uma qualquer cigarra. Vejo-me sempre mais como
uma formiguita.
No fundo sempre desconfiei da calmaria, pois a esta sucederá inevitavelmente
a tempestade. E quanto mais prolongada for a paz, mais feroz será a guerra!
Não é por não me achar merecedor de períodos de tranquilidade, mas sim pelo
simples facto de respeitar o dito popular “Não
há mal que sempre dure, nem bem que se não acabe”.
É que quando muita coisa na minha vida estava efectivamente mal,
tinha esse dito gravado na minha memória, e agora, mais que nunca, quero-o junto
a mim, como lema de vida.
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