Nunca duvidei do que diziam os cientistas climáticos acerca do aumento das temperaturas, mas sempre julguei que os efeitos não se sentiriam tão rápido, que teríamos mais tempo, que fosse inexorável, mas gradual. Enganei-me. Estamos prestes a ficarmos cozidos.
Em casa em
que falta pão, todos ralham e ninguém tem razão, e agora todos apontam o dedo ao
El Nino, à El Nina, aos agentes poluentes, aos frigoríficos, e principalmente às
vacas, essas doidas, que plenamente conscientes da situação, insistem em
libertar metano.
Eu contra
mim falo, pois só utilizei os transportes públicos quando não podia conduzir o
meu veículo a combustão, pois é bastante cómodo, e como não trabalho longe de
casa, é relativamente barato, e assim vou.
Que fazer
agora? Aguardar até ficarmos cozidos? Começar a migrar para as regiões mais
frescas? E será que os governantes e os locais deixam entrar uma mole imensa de
migrantes, em busca de fresco?
Se já somos
tantos habitantes, distribuídos pelos quatro cantos do mundo, como será se nos começarmos
a concentrar num único canto? O que acontecerá a nível social, alimentar, de
saúde pública?
Desconfio que
os ricos e os poderosos já começaram a preparar-se para viverem todos juntos,
em imensas arcas congeladoras, enquanto o povo vai estar a cozer como lagostas na
panela, em crescentes ondas de calor, cada vez maiores e mais frequentes.
E assim se
encerrará mais um capítulo da história da Terra, em que vai morrer a maioria
dos humanos, junto com a maioria dos outros animais de médio e grande porte,
tal como aconteceu na época do Noé.
Acredito que,
na extensa vida da Terra, houve outras extinções em massa, já com humanos à
mistura, e esta é apenas mais uma, na qual, desta vez, sou eu que estou
envolvido, como figurante de uma história com um desfecho conhecido, mas não
menos trágico.