Uma Lua enorme apareceu de súbito de entre as árvores, e tão fortemente iluminada que mais parecia uma estrela gigante, num céu profundamente negro.
Desde há minutos que ouvia uivos de lobos, e pelo som senti que estavam perigosamente perto.
Sem outras opções, subo a um pinheiro bravo com ramadas fortes, para poder suportar o meu peso, trepo até aos ramos mais altos, e amarro-me fortemente ao seu tronco.
Nesse preciso momento inúmeros lobos passam por baixo de onde estou, a perseguirem em alta velocidade uma presa que não consegui ver bem o que era, mas que me parecia envolta numa bela luz dourada.
Tão
excitados estavam os lobos na sua perseguição que, aparentemente, nenhum detetou o meu rasto, pelo que abandono rapidamente a árvore e fujo dali.
Necessito de abandonar a floresta, mas o problema é
que esta é enorme, e se não sei onde estou,
muito menos consigo saber para onde tenho de ir.
A Lua surge novamente e diz-me que me acompanha, que me apoia, que me vai aquecer e
iluminar o caminho, e eu, com a esperança renovada, sigo na sua direção.
Do nada deparo-me com uma colina íngreme, o que me deixa bastante satisfeito, pois é sabido que os lobos não apreciam muito este tipo de terreno.
Mas a minha
preocupação de sobrevivência continua, pois poderei estar a escapar de lobos me encontrar com ursos
ou coisa pior, como buracos ocultos no gelo.
Mais uma vez, a Lua diz-me que devo permanecer confiante e calmo, e que esta aventura terá no seu final uma agradável surpresa, e eu sorrio, confiante na sua palavra.
Quando chego ao alto de um alto penedo para tentar avistar o final da floresta, deparo-me com um brilho dourado intenso, a rodear uma criatura.
Apesar do enorme susto que tive ao ver algo tão estranho, senti que aquela luz dourada e quente me estava a atrair.
A neve fofa
abafa o ruído dos meus passos, e estou cada vez mais próximo, e a ver cada
vez melhor tão estranha criatura.
Ao chegar
mais perto, verifico que é uma criatura lindíssima, mágica, da qual nunca tinha visto nem ouvido sequer falar.
Reparo com tristeza que a bela criatura está ferida, com fios de sangue a correr pelo corpo, e compreendi que tinha sido atacada pelos lobos.
Ao notar a minha presença, a criatura assustou-se, mas não conseguiu pôr-se em fuga, tal o seu estado de fraqueza extrema.
Senti no meu
intimo que tinha de levar a criatura dali, pois de certeza que daí a pouco tempo os lobos voltariam, para terminarem o que já tinham começado.
Pego na
criatura nos meus braços, e para além de parecer não ter qualquer peso, até me dava a
sensação de eu próprio estar a flutuar.
Animado
com esta nova vantagem, começo a correr montanha acima, ouvindo cada vez mais longe os lobos a
uivar de raiva ao longe, frustrados.
Chegámos perto
do topo da montanha mais alta das redondezas, e descubro a entrada de uma
caverna que me pareceu bastante acolhedora.
A caverna
era perfeita para nos acolher, proteger e aquecer, pois, para além de servir de abrigo, permitia ver sem ser visto.
Dentro da caverna, vejo a criatura rapidamente a recuperar dos seus
ferimentos, sem eu ter necessidade de fazer absolutamente nada.
À medida que se recuperava, o brilho da
criatura aumentava, e as suas feridas sararam
completamente em questão de poucos minutos.
Assim que ficou sarada, a criatura assumiu uma forma completamente humana e asas surgiram das suas costas, enquanto eu caí de
joelhos, tal o meu espanto.
E o Anjo
falou comigo numa estranha e linda língua, completamente desconhecida para mim, mas mesmo assim, consegui
perceber tudo o que me disse.
O Anjo contou-me que, em
desespero, tinha pedido à Lua que o salvasse, mas que teve como resposta que não podia, pois estava muito longe.
Mas a Lua tinha-lhe dito que ia enviar a pessoa perfeita para o
salvar, e que estivesse descansado, pois a ajuda chegaria mesmo a tempo.
Dito isto, o Anjo fez-me uma profunda vénia de agradecimento, e voou em direção à Lua, a sua eterna companheira.
E foi assim
que eu fiquei a saber que há muita coisa para além do que vemos e sentimos, e muitas delas são mágicas e lindas.
E que nada na vida acontece por acaso….
(E um Feliz Natal a quem
leu este texto)