quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

O Crápula (6 de 6) Epílogo

 

EPILOGO

Peguem num rapaz traumatizado por ter uma matrona como mãe, que teve de se assumir como adulto de um dia para o outro, que foi obrigado a casar porque tinha engravidado uma rapariga. Já não é pera doce.

Agora peguem nesse homem traumatizado, e revelem-lhe que a mulher com quem se casou, por estar grávida, afinal já estava nessa situação antes de o conhecer. É que a Rita se tinha perdido de amores por um vizinho, que a desvirginou e emprenhou, e que ela continua verdadeiramente apaixonada por ele.

Tudo isto fez com que o Hélder se transformasse num ser extremamente frio, calculista, cruel, que despreza finamente os outros seres humanos, principalmente as mulheres, que para ele, são a fonte de todo o mal, qual Eva, que fez entrar o pecado original no Paraíso.

Ele agora só está contente quando engana alguma mulher, quando a faz apaixonar perdidamente por ele, para depois a humilhar, a fazer sofrer horrores, de lhe dar uma réstia de esperança de entendimento, para logo de seguida mudar de ideias.

Quantas não vimos a chorar, desesperadas, depois de lhe irem bater à porta e ele nem se dignar a recebê-las? Quantas deixaram tudo para trás em busca do verdadeiro amor, e caíram? Quantas ele deixou desonradas perante as respetivas famílias?

O Hélder tornou-se assim no maior crápula de que já existe memória, mas, de quem lhe conhece a história da razão desse procedimento, o culpará verdadeiramente? Eu não, se bem que me arrepie sempre que me lembre do que lhe fizeram e do que anda a fazer.

As histórias dele chegaram-nos aos ouvidos por muito tempo, e passado algum tempo já nem tinham interesse, pois eram meras repetições de um esquema de atração e de repulsa, e que já nem sentíamos pena das vítimas.

Deixámos de ver o crápula por uns tempos, e só pensámos que alguma já se vingou e o Hélder já deve estar ou no fundo de um ribeiro, com uma pedra ao pescoço a servir de gravata, ou sete palmos abaixo do chão num ermo qualquer.

Os próprios pais dele andavam muito preocupados, pois nem eles tinham quaisquer notícias da sua pérfida cria, e claro que temiam o pior. E as semanas passavam e nada do Hélder. E assim passou a Primavera, o Verão, o Natal, a Passagem do Ano e nada. Já quase nos esquecemos dele.

Antes do Carnaval, alguém apareceu a dizer que tinham visto o Hélder a caminhar na praia, e quando o saudaram, ele respondeu, muito bem-disposto. Estava, portanto, vivo e de boa-saúde. Mas nada de aparecer.

No Domingo de Páscoa, quando vínhamos da Missa, reparámos num táxi que tinha acabado de estacionar, e de lá saiu o Hélder, acompanhado de uma mulher. Estranhámos, pois ele nunca tinha trazido nenhuma para casa dos pais. Elas só iam bater-lhe à porta depois de descobrirem onde ele morava.

E para nosso espanto, nos braços dele carregava um bebé. Ele ia de mão dada com a mulher, que transbordava confiança. O crápula tinha desaparecido, e o Hélder tinha ressurgido. Graças ao Amor.

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