De tantas vezes ouvir dizer que “a esperança é a última a morrer”, qualquer
dia começo mesmo a acreditar que isso é mesmo realidade. Mas acho difícil mudar
de opinião acerca da esperança, da fé, do acreditar que certas coisas acontecem,
apenas e só porque se quer muito.
Na realidade, não me lembro que me tenha surgido algo na vida apenas por
a ter desejado. Quando era criança queria ter
um cavalo e uma vaca, apesar de viver num apartamento de cidade, com três pequenas assoalhadas.
Não me querendo dizer que não nem me chamar de maluco, a minha mãe perguntava-me onde eu iria por
os animais, ao que eu respondia “debaixo da mesa”. Assim, mesmo querendo
muito ter um cavalo e uma vaca, nunca os tive.
Poderá ter sido nesse episódio que perdi a fé no apenas querer.
Ao longo dos anos tenho observado que quem mais diz que “a esperança é a última a morrer”
são as mesmas pessoas que nada ou pouco fazem para alcançarem o que querem. E
quando isso acontece, dizem, sem qualquer pinga de frustração: “é
porque não era para acontecer” ou "o Universo não quer".
Apesar de ter visto essa cena muitas vezes, confesso que o meu
espanto continua a ser tão espontâneo e legitimo como se fosse a primeira vez. Fico com cara de parvo, pois continuo a não conseguir entender. Mas isso, obviamente, é uma limitação minha, não deles.
É o mesmo que querer ganhar muito o Euromilhões sem apostar, ficando à espera que o vento me coloque um boletim premiado nos pés....
Isso lembra-me a personagem interpretada pelo Vasco Santana no filme “Canção
de Lisboa” de 1933, aquele que faltava à Universidade 7 dias por semana,
apesar desta só funcionar de segunda a sexta-feira.
Nesse filme, apesar do “Vasquinho da Anatomia” querer muito concluir o curso de Medicina, não pegava num único livro para estudar, e muito menos frequentava as aulas. E apesar de toda a sua fé, otimismo e esperança, o “Universo” continuava a recusar dar-lhe o diploma.