Tento desesperadamente que os meus olhos se fixem no écran do telemóvel, mas não consigo! Eles fogem sempre para o rosto dela!
E num desses relances vejo-a a rir-se de mim, do meu patético e hercúleo esforço de tentar não olhar para ela, sem o conseguir. E como ela se estava a deliciar com essa imagem.
Incomodado, ergo-me num repente, saindo daquela posição estúpida em que olhamos para o
telemóvel, formando uma bossa de camelo, e olho-a, fingindo total desinteresse. Mas eis que ela me fita, séria, direta e desinibida.
Lívido, sento-me novamente. “E agora? És um homem ou um rato? Sabes perfeitamente o
que quer dizer esse olhar. E agora, que fazes?”
As mulheres belas e desejadas por todos, de tão habituadas a serem miradas, desenvolvem mecanismos para ignorar os olhares indesejados. Benditas sejam.
Mas o
raio desta mulher pequena e discreta retribui-me o olhar. Maldita seja!
"Despacha-te. Ela espera por um sim ou por um não. É que a estação para saires está quase a chegar!". E noutro repente, encaro-a, e ela. E ela, também a encarar-me, levanta-se do lugar num jeito felino, e dirige-se lentamente para onde estou....
Eu fico a
olhar para ela, embasbacado, sem conseguir adivinhar os seus pensamentos ou sequer calcular os seus
próximos movimentos. Apenas fico a olhar para ela. E como estou a gostar de olhar para ela....
As suas feições são suaves como seda, muito bem acariciadas pelo sol. E esta mulher pequena e discreta passou a ser mesmo muito bonita!
A sua
graciosidade no andar faz-me lembrar uma pequena gata, olhando, mirando, cheia de sensualidade. Passa por mim, devagar, dirigindo-me um (falso) tímido e discreto sorriso.
E eu,
ali, sentado, parado, apenas a olhar para ela. Sem reagir, sem me mover, apenas a
olhar para aquela gata.
A
composição do metro parou, abrindo as suas portas, e num movimento ela salta para a plataforma, não sem
antes me lançar um olhar, certificando-se de que eu a seguiria.
E eu permaneci sentado. É que aquela não era a minha estação, e por isso não tinha nada de me levantar nem sequer de sair!
E eu permaneci sentado. É que aquela não era a minha estação, e por isso não tinha nada de me levantar nem sequer de sair!
Ela
olhou para mim, incrédula! E eu sorri. Estava a brincar. Claro que a
seguiria. Até ao fim do mundo. Acho….
(continua)