Ao fim de uns intermináveis minutos,
depois de me tentar distrair vendo as pessoas na rua, aproximo-me lentamente da
secretária, como se fosse um ato meramente casual. Afago as costas da cadeira,
a testar a sua resistência e consistência, como se a estivesse a comprar.
Sento-me num impulso, como se fosse fazer
outra coisa e começo a brincar com a caneta, mirando-a de vários ângulos, como
se a não conhecesse. Passo os dedos pelas alvas folhas, como se procurasse
rugosidades ou imperfeições. Nada. São perfeitas.
Respiro fundo uma e outra vez, como se
estivesse a ter um ataque de asma, doença que nunca tive, e passei de seguida
para uma mais que fingida concentração total. Endireitei as costas até estas se
queixarem, e retomei a sua curvatura natural, sentindo-me parvo pelo que
tinha acabado de fazer.
Sentia-me como se estivesse na praia com o
sol quente a queimar-me a pele e com os pés na água, mas por falta de coragem
não banhava o resto do corpo. E por a água estar fria como o caraças.
Desta forma, lá me mentalizei que o melhor
era despachar rapidamente o que tinha a fazer. Chega de sofrer por não fazer e
de sofrer por não ter feito, num ciclo interminável e insano. No fundo, chega
de procrastinação.
Respirei fundo mais uma vez e disse para
mim mesmo “É agora!”. E foi. Comecei a escrever…