sexta-feira, 23 de março de 2018

A Amante (2 de 3)

As semanas que se seguiram foram muito complicadas para mim. Na empresa eu e o Nuno evitávamo-nos, e a partir daí nenhum dos dois foi a casa um do outro, ao contrário das nossas famílias. Orgulhosos, não falámos da situação, pois sendo homens, considerámos que não havia nada para falar!
Uma noite, a minha mulher, do nada, disse qualquer coisa como “vê lá se não cais como o Nuno”, ao que lhe perguntei, meio ingénuo e meio distraído “mas o Nuno magoou-se, foi?”, mas quando ia rectificar, já só vi a Glória a bater com força a porta do quarto, zangada comigo.
Fui atrás dela a dizer “eu não sou o Nuno, fica descansada” ao que ela parou de repente, e olhando-me nos olhos e disse, calma e friamente “Veremos”. E eu encarei esse desafio, como tinha encarado tantos ao longo da vida. E superado. Quase todos…
Não tinha passado muito tempo quando caí. E caí de cabeça! E tal como o Nuno, com uma colega de trabalho!
Sinceramente não imaginava que tal me poderia suceder. Julgava ter uma relação marital e emocional estável e portanto só podia estar muito satisfeito com a minha vida. Racionalmente tudo estava bem. Mas a vida não é feita apenas do racional….
Numa manhã ensolarada, o Nuno entrou no meu gabinete com duas canecas de café na mão e um sorriso. Como continuámos a evitar-nos fiquei tenso e endireitei-me rigidamente na cadeira, mas ele desarmou-me logo quando me estendeu uma caneca e disse “vamos passar o fim-de-semana fora os quatro?
Os meus olhos brilharam, pois percebi logo quem eram os quatro. Ia realizar-se um seminário em Génova e sabia que o Nuno e a sua “amiga” iam estar presentes. Eu também precisava de ir, mas dadas as circunstâncias, custava-me. E agora surge isto…..
Confesso que foi um fim-de-semana fantástico, muito romântico, e apesar disso, nem sei se gostei mais de ter estado dessa forma com a Celeste se foi a total reaproximação com o Nuno.
Apesar de saber que o Nuno não era, de todo, infeliz com a sua esposa, foi um deleite vê-lo como se fosse um miúdo grande, apaixonado. E eu também estava. Muito.
Se eu fosse livre, sei que estaria imensamente feliz. Mas eu não era, pois tinha-me comprometido para sempre, para o bem e para o mal, para a saúde e para a doença, com outra pessoa.
Por mais que desse voltas à cabeça, não sabia como sair desta situação.
Via o Nuno completamente “apanhado” em todos os sentidos. Foi apanhado pela paixão e também pela esposa, família, colegas e amigos. Tão enredado estava que mais parecia um atum nas redes, e à medida que se debatia, mais preso ficava.
E eu já via as redes que me iam apanhar a aproximarem-se cada vez mais. Não tardaria a estar na mesma situação do Nuno, pois a Celeste pedia uma definição da nossa situação, um pouco à semelhança do que estava a suceder com a "namorada" do Nuno, de seu nome Maria.
Eu ia vivendo um dia-a-dia cada vez mais complicado. Sentia os meus filhos, já crescidos, a necessitarem cada vez menos de mim, e eu e a minha esposa cada vez mais desligados física e emocionalmente um do outro desde há anos. Mais parecíamos irmãos.
E eu sentia que a Celeste era a minha derradeira hipótese de poder voltar a ser feliz....

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