sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Fernanda (1 de 2)


Fernanda caminhava apressada rua abaixo, pisando ao de leve o quente alcatrão.

Ao chegar à porta do prédio a ansiedade fez com as chaves saltassem da sua mão, mas apanhou-as ainda no ar.

Ela ligou-lhe ainda antes de fazer rodar a chave da porta de entrada, com o telemóvel firmemente prensado entre o ombro e a orelha.

Adentrou a porta do prédio e zarpou escada acima, nem reparando que o elevador estava estacionado no rés-do-chão.

Abriu a porta de casa e deparou com o seu fiel gato a fazer de cão, à sua espera na entrada.

Mas onde estaria o outro gato, o “seu outro gato”, também ele de olhos verdes? Estranhou.

Ligou-lhe de novo. Mais uma vez foi para a caixa de mensagens. Estranhou. Sentou-se no sofá e abanou-se. Realmente estava muito calor.

Descalçou-se e com visível satisfação e aninhou-se no sofá, ao mesmo tempo que o ronronadeiro passou à sua frente.

Pensou nos gatos da sua vida. Realmente tinham os dois muito em comum.

Amarelinho foi o seu primeiro gato. E com pêlo por todo o lado.

Ricardo foi o seu segundo gato. Mas com muito menos pêlo.

Amarelinho era um gato comum europeu. Popularmente chamado de gato sem raça.

Ricardo era do tipo comum europeu. E muito popular junto de determinado público.

E a Fernanda encontrou-os a ambos na rua, em períodos diferentes.

Amarelinho foi encontrado debaixo de um automóvel, faminto e sujo, e num ápice encontrou em Fernanda um lar.

Ricardo foi encontrado junto ao Minimercado, e também num ápice foi para o lar de Fernanda.

Lembrava-se por vezes da sua pacata vida, antes de arranjar os seus gatos. Tão pacata que nem social chegava a ser.

Trabalhou desde sempre no Minimercado da vila, e sentia-se feliz.

E sentia-se feliz simplesmente por poder contactar pessoas. Adorada pelos velhinhos e invejada pelas suas esposas. Mas sem rancor….


Era a Nandinha. Fernanda só passou a ser tempos depois, e apenas para uma certa e muito especial pessoa….

(continua....)

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