quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Tânia (3 de 3)


Quando ela soube do meu “atrevimento” de lhe atender o telemóvel, deu-lhe uma tal fúria que pegou na mala e desapareceu escada abaixo.

E eu? Eu fiquei totalmente destroçado, fazendo juras e mais juras para mim mesmo que jamais repetiria tamanha estupidez! Se o arrependimento matasse tinha caído, ali, fulminado.

Ai como penei na sua longa ausência, sempre com medo que algo lhe acontecesse. Sentiria sempre que era por minha inteira culpa.

Já tinha passado uma semana quando ela mete a chave à porta. Eu já estava em casa, e a primeira coisa que fiz foi correr, querendo abraçá-la.

Parei a meio ao ler-lhe na cara um "nem penses nisso!". Apenas murmurei um pouco audível "Desculpa Amor, não volta a acontecer..." 

E continuava a acreditar, ingenuamente, que por ela ter cada vez mais fortes ataques de cíumes, que ela me amava e portanto a nossa relação iria melhorar, mais cedo ou mais tarde.

Mas o tempo foi-se passando e a minha prisão ia ficando cada vez mais pequena, e o tratamento era cada vez pior. Eu estava na solitária, sem acesso a contacto humano. Só tinha mesmo o meu gato para me confortar.

E sentia que o sorriso largo e sincero que sempre tive ao vê-la foi-se aos poucos esmorecendo. Desesperava.

A minha irmã, que nessa altura só me ligava para o trabalho, repetia: “Ela fez-te alguma macumba. Eu já nem te conheço, mano. Não estás em ti”. E eu começava a acreditar nela.

Até que chegou o dia, o fatídico dia. O tal que não devia ter acontecido. O da perfídia. Mas que estava escrito que assim seria.

Naquela altura a minha “relação” encontrava-se bem pior que o normal. Ela estava completamente distante, e fria como gelo.

No fundo nunca podemos dizer que estamos bem, mas também nunca podemos dizer que estamos mal, pois corremos sempre o risco de ficarmos bem pior.

E por mais que se diga e que se sinta, na verdade nunca estamos preparados para nada nesta vida! Eu que o diga.

Meti a chave na fechadura, abri a porta e os meus sentidos dispararam logo, alarmando-me para uma qualquer situação!

E senti-me tão tonto que sinceramente não percebi nada do que estava a acontecer. Na verdade, não queria era acreditar no que via.

Ela tinha-me deixado. Sim, ela tinha-me deixado sem apelo nem agravo, sem um papel, sem uma mensagem, sem uma justificação.

E deixou-me sem nada a não ser a roupa que tinha colado ao corpo.

Senti-me esventrado, violado, e sentia as minhas entranhas tão revoltas que estava prestes a vomitar.

A minha casa estava tão vazia como a minha alma, ou a minha cabeça.

Nem conseguia permanecer de pé, numa suprema ironia do destino. Estava de quatro desde que a conheci e agora que se foi, continuei de quatro!

A medo levanto a cabeça em direcção ao resto da casa, e só conseguia ver no chão as marcas dos móveis terem sido arrastados de lá para fora.

Senti-me como um troiano após a abertura do Cavalo de Tróia. Meti o mal dentro de minha casa. Dentro de mim.

E no meio desta desolação vi com absoluto horror, o pior de tudo! Não é que aquela filha da p....  até o c... do gato me levou!

É que o bichano nem era dela, pois foi a minha amiga Andreia que mo deu mesmo antes de eu conhecer esta desgraçada.

Mas ao mesmo tempo que sentia a raiva crescer dentro de mim, outra sensação ainda mais forte me invadiu, sobrepondo-se a tudo!

No meio de todo um turbilhão de sentimentos, ouvi-me lá mesmo ao fundo a soluçar alto. Tinha chegado o meu fim.


Foi nesse preciso momento que fiquei com a absoluta certeza de que nunca mais a veria, a ela, à Tânia, o grande amor da minha vida!

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