quinta-feira, 28 de julho de 2016

A Linha do Desconforto

A palavra Linha tem múltiplos significados. Pode querer dizer fio, troço ferroviário, marca na palma das mãos, orientação religiosa, comunicação telefónica, entre muitos outros.
É também bastante utilizada em expressões idiomáticas e populares, entre elas o “andar na linha”, que significa caminhar numa direcção, sem fazer desvios potencialmente perigosos.
Exemplo é a indicação de seguir a linha azul num hospital: basta seguir a cor e vamos lá dar, sem enganos, sem dúvidas.
Mas a linha pode funcionar ainda como barreira, como limite. Se “andar na linha” é aquela que temos de seguir pisando, a da barreira é aquela que não podemos (ou devemos) ultrapassar sem incorrer em consequências.
Esta linha como barreira não aparece marcada no chão quando caminhamos em direcção ao nosso destino, mas pode-nos ser lembrada, de dedo em riste, como algo a evitar e a temer: “Não te atrevas!
É uma linha discreta, ténue, invisível aos nossos olhos. Mas que decide tudo. É como o passar da luz para a escuridão!
Nas disciplinas dos saltos do atletismo temos o juiz de pista que levanta a bandeira vermelha se vê o atleta a pisar a linha proibida.
Nos relacionamentos também existe essa figura. Mas pode-se ou não dizer que se levantou a bandeira vermelha, caso tenha visto a infracção cometida.
A essa chamo Linha do Desconforto!
Não a vemos fisicamente. Também não tem cor, forma, grossura ou textura. Mas caramba, como se sente!
Se estivermos atentos conseguimos vê-la num qualquer casal completamente desconhecido, apenas pelos sinais que constantemente emanam. Vemos logo que algum deles, ou os dois, passou a linha do Desconforto.
E quando se passa connosco? Só não a vemos se estivermos com os sentidos completamente desligados. É que basta ter um deles a funcionar a meio gás para o sabermos inequivocamente.
Mal comparando, a sensação de ter sido passada a linha do Desconforto é semelhante a nossa Alma estar vestida com roupa inapropriada para o evento ou para a estação do ano, e sem possibilidades de a despir ou de a trocar!
E se a sensação no início é, no mínimo, como o nome indica, desconfortável, rapidamente pode evoluir para algo ainda mais incómodo, e mais, e mais, até se tornar verdadeiramente insuportável para a vida a dois.
E é aí que a Linha do Desconforto se torna a Linha do Fui……

terça-feira, 26 de julho de 2016

Finalmente, a resposta aos teus anseios!


Tu, que estás numa relação condenada e que já estás mesmo muito farta(o) dele(a), isto é para TI!

Anseias há muito o final da tua relação (já nada) amorosa, mas ainda não tiveste coragem suficiente para a terminar?

Com este método revolucionário e amplamente testado, encontraste a solução para os teus problemas!

Basta deixares de ser quem és durante apenas 15 dias, e encarnares um novo EU definido por ti. E sê bem-vinda(o) à tua nova vida.

Após um curto período de treino e de representação, o fim da tua mais que acabada relação está ali mesmo ao teu alcance!

Método científico com resultados garantidos, apenas dependente da mestria (e do exagero) da tua performance.

Para definires a tua personagem só tens de optar por uma de duas hipóteses, para cada uma dos 5 seguintes características:

EMOÇÃO

A. Seres demasiado HISTÉRICA(O) (chora e grita de emoção com qualquer situação banal do dia-a-dia)
B. Seres demasiado FRIA(O) (uma máquina de lavar roupa é muito mais emotiva do que tu)


ARRUMAÇÃO

C. Seres demasiado DESARRUMADA(O) (roupa suja espalhada por todo o chão é a tua marca registada)
D.Seres demasiado ORGANIZADA(O) (se detectares alguma coisa fora do lugar o mundo todo desaba)


DINHEIRO

E.  Seres demasiado GASTADOR(A) (já gastaste até mais do que pensas receber no ano que vem)
F.  Seres demasiado FORRETA (esperas sempre que ele(a) puxe pela carteira pois a tua está sempre escondida)


FRONTALIDADE

G.  Seres demasiado FRONTAL (sempre a questionar tudo e incisivamente sobre o que ele(a) faz, pensa e diz)
H. Seres demasiado EVASIVA(O) (nunca respondes a nada directamente e estás permanentemente em fuga)


TRABALHO

I.    Seres demasiado TRABALHADOR(A) (workaholic compulsivo, sem nunca teres tempo para a relação)
J.  Seres demasiado PREGUIÇOSA(O) (não fazes nada em casa e ficas ofendido(a) se te apontam o dedo)

Imagina-te a entrares na pele desta tua personagem. Didáctico e divertido!

Dica: Potenciarás os resultados caso escolhas o oposto do que és na realidade!

E verás que no prazo de 15 dias a tua pseudo relação estará finalmente acabada!

E mais! Sem quaisquer remorsos da tua parte, pois na realidade foi o o(a) teu/tua futuro(a) Ex a terminar a relação, apenas com uma ajudinha do teu alter-ego!

Desafia-te e Supera-te! Conta comigo!

Serei o teu MENTAL COACH!


Aviso da Direção-Geral dos Assuntos Amorosos, Relacionamentos e Afins (DGAAFA)

No caso do(a) teu(tua) parceiro(a) NÃOACABAR com a vossa relação no prazo máximo de 15 DIAS, a DGAAFA aconselha a ficares com ele(a), pois provavelmente nunca mais irás conseguir arranjar melhor!

segunda-feira, 18 de julho de 2016

A Comichão

É certo e sabido. O Amor está sempre ao nosso lado!
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Por vezes até temos receio de olhar para o lado, por sabermos que ele lá está. Sempre.

Mas algumas vezes somos tentados. E lá está ele, a sorrir… daquele jeito só dele....

E quando ficamos sem jeito é porque o sorriso dele está a tocar-nos…. e quando isso acontece…...acontece….

Mas o Amor é tramado e por vezes, demasiado cedo, pede para não ser só sorriso. Ou só Amor e uma Cabana....

É que por vezes, o Amor do outro anda mais depressa do que o nosso.

E aí, para nós, lentinhos, tudo nos parece uma corrida…. e das vertiginosas… e o Amor a andar a diferentes velocidades....

Mas o tecido do Amor não foi feito para esticar!

E por vezes rasga-se como pano-cru.

E quando este fica rasgado e….. já estamos na mesma cabana?

Lindo serviço! Sem sorriso bonito e sob o mesmo tecto….

Resta um Amor rasgado e um Sorriso amarelinho….

E aí começa o incómodo…. e uma comichão que não sara…

Aplicamos cremes para atenuar um pouco…

E deixamos de sentir tanta comichão…. por algum tempo.

Mas esta quase sempre volta, por isto e por aquilo.

E aí comicha cada vez mais…. e mais, e mais, até ficar em ferida….

Ainda gostamos mas incomoda-nos estarmos a partilhar o mesmo espaço….

Ainda gostamos mas o seu cheiro atrai-nos cada vez menos…

Ainda gostamos mas a sua voz torna-se cada vez mais irritante….

E aí? Ainda gostamos. Mas já não suportamos...

É a comichão que não passa…


E lembrar que tudo começou com um lindo sorriso….

José


José nasceu no seio de uma família tradicional portuguesa, nos meados do século XX.
E naquele tempo as tradições eram mesmo para respeitar, a bem da ordem social!

O seu Pai, o Chefe da Família, tinha a primazia de ser servido em primeiro lugar, cabendo-lhe sempre o melhor que havia em cima da mesa.
Seguia-se então a sua Mãe, a Matriarca da Família, e os seus irmãos, por ordem decrescente de idade.
Calhou o destino que José fosse o mais novo….
… cabendo-lhe invariavelmente as mais raquíticas das batatas cozidas….
… assim como as roupas coçadas dos irmãos, e os sapatos já magros de sola....
Com todos estes condicionalismos, cedo José começou a sonhar ser o patriarca da sua própria família.
Mas quando tal aconteceu, já o mundo tinha mudado.
Actualmente em casa do José o primeiro a ser servido à mesa é o seu filho mais novo….
… e ao "Patriarca" calha sempre a mais pequena e ossuda das costeletas…..
Mas se julgam que as mudanças na vida de José e na sociedade se ficaram por aqui….
Na sua infância José não podia falar porque….. era uma criança. Naquela altura as crianças apenas ouviam....
Assim, quando o seu pai falava, todos baixavam respeitosamente a cabeça, em sinal de respeito e submissão.
E nesses momentos, José sonhava.....que quando  tivesse família poderia finalmente falar e ser ouvido....
Anos mais tarde José casou com uma mulher doce como o mel….. mas conheceu-a ainda antes destas mudanças todas. E como tudo mudou.
Agora os filhos adolescentes de José nem o querem ouvir...... estão noutra.
E quanto à sua doce esposa.... ui, quando ela lhe fala (e os seus olhos chispam), José baixa a cabeça….
É que, francamente, se ela quisesse ouvir algum homem, escutaria, obviamente…. o Nuno Rogeiro!

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Como se fossemos um só ser


A suavidade com que me enlaça é inebriante, e consigo-lhe sentir o aveludado de uma forma obscenamente tangível.

Tudo parece ter sido desenhado, melhor, finamente esculpido na mais pura das sensualidades.

Sabendo e sentindo-se assim, projecta-se ainda mais sobre mim de modo a que eu nunca, mas mesmo nunca mais esqueça esta vivência, aqui e agora.

Levanto os olhos e mesmo na penumbra consigo vislumbrar o seu olhar intenso sobre mim.

As minhas narinas detectam indelevelmente o seu cheiro doce e penetrante, como almiscarado com madeiras exóticas.

Num movimento imparável a minha barreira indelével rompe-se de vez e os meus sentidos ribombam numa violenta explosão que me deixa estático e extasiado, como que quebrado….

O meu sentir é tão intenso que me ocorre que o que antes sentira me parece uma tão débil caricatura, como um fantasma de uma longínqua vivência, já quase inteiramente esquecida.

A minha alma rende-se por fim, mas ao invés de se entregar, intensifica a sua chama como se a fonte de energia fluísse no próprio ar, pujante e ritmado.

Sei-o agora. Pertenço-lhe e pertence-me. Como se fossemos um só ser…..














……num movimento lento e a muito custo largo o livro..... Estou mesmo a gostar desta história, mas realmente já é tarde e tenho de ir dormir…..

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Da Minha Verdade

De todos os sentimentos que elevam o Ser Humano, Perdoar é, para mim, o mais nobre, evoluído e altruísta.

Mas Perdoar é também o mais difícil de entender e de executar, especialmente quando o acto original está para além da minha compreensão.

Posso até dizer que perdoo, posso até sentir que perdoei mas...

... por vezes que esse sentimento dá lugar a outros, consideravelmente menos nobres por mais primitivos por impulsivos, e por isso muito mais próximos de quem realmente sou, e quiçá, todos nós!

É que ciclicamente surge-me uma inquietação, um incómodo, um fervilhar de emoções resultantes da titânica e permanente luta entre o Perdoar e o Vingar, tão visceralmente semelhante às peleias entre o Bem e o Mal, ou do Amar e o Odiar.

Por me ocorrerem estas violentas batalhas questiono a predominância do meu lado humano e altruísta, temendo que tenha feito uma escolha, mesmo inconsciente, pelo lado menos claro do espectro.

Pura ilusão, pois ao Branco sucede o Preto e ao Preto sucede o Branco, tal como ao Amor sucede o Ódio e ao Ódio sucede o Amor.

E que da última batalha nada mais resulta que o início de outra, num movimento contínuo de Renovação.

É que para mim não há Perdão ou Vingança, Bem ou Mal, Amor ou Ódio em termos absolutos.

Deste modo nada é perene e puramente verdadeiro aos meus olhos.

Não vejo Preto ou Branco mas sim inúmeras tonalidades de Cinzento que vão reflectindo sentimentos intrinsecamente meus, mutáveis e evolutivos...

... com os quais trilho caminhos na minha busca da Verdade.

Da minha Verdade.

segunda-feira, 4 de julho de 2016

Canícula Canina


Mesmo sendo o Verão a época dos calores, a verdade verdadinha é que a canícula de hoje estava demasiado brava para estes lados. Especialmente para mim, por razões óbvias!

A tarde molengava como um pão quente a escorrer mel, e eu que não sou de contrariar ninguém, bezerrava pachorradamente estendido no sofá, esperando que a tarde se fartasse de si mesmo e se vestisse de noite.

O calor abrasava-se a si mesmo, impedindo os restantes seres vivos de pensar em mais nada que não fosse bebidas frescas e chuva gelada.

O próprio sol divertia-se a fazer razias às cabeças dos loucos que se atreviam a sair à rua, torrando-lhes o cocuruto e por vezes, um capachinho ou outro.

A sombra, a ver-se tão solicitada, fugiu de tudo e de todos e refugiou-se num vão de escada, aguardando aí que o sol se fartasse da sua juvenil vilanagem e desaparecesse no horizonte.

Já a água fresca e o pirolito gelado, inchados com a sua inesperada popularidade, mostravam-se uns oferecidos, indo com todos e com todas, numa total ausência de pudor.

Eu próprio dei por mim a desconfiar que estava com alucinações devido ao calor, quando senti a ausência de picadelas das melgas, pois eu nessas coisas sou um autêntico Cristo!

Tive a certeza que as alucinações tomaram mesmo conta de mim quando "vi" aquelas bestas assassinas aladas a abanarem-se com leques e a beberem "pina coladas"….. em vez do meu rubro sangue.

A essa altura a própria água já se tinha transformado em vapor e zarpado para longe, dizendo entre dentes que não ia aturar tamanha provação nem mais um segundo!

Já uma bola de pelo tentava desesperadamente regurgitar-se pela boca do gato cá de casa, que enojado, olhava de esguelha para mim, quiçá numa vã esperança que eu o fosse salvar de tamanho desconforto.

Aquele burro nem desconfiou, mas errou por muito o alvo, pois eu realmente podia até salvar o mundo, mas desde que soubesse que ele se fosse lascar….. e de vez.

E foi com esta sensação de infindável gozo pela situação por que estava a passar aquele bufento felino que se passou a tarde e a tarde se fez noite..... em mais uma canícula canina...

domingo, 3 de julho de 2016

Assunto: What?? (Capítulo final)




Data: 18 Maio 2016; 22:24

Assunto: What!!??

Olá Primos!!!

Só agora vi os e-mails que cada um de vocês me enviou. Deixei em casa o papelito com a palavra passe e por isso não deu para os ver, até hoje.

Mas descansem que já os li com muita atenção. E espanto, confesso.

Estou assim a dizer-vos que não tenho parado em casa e nem me ocorreu ir ver este e-mail, que utilizo quase em exclusivo para comunicar com vocês.

Antes de mais quero anunciar que já não vou viajar para Lisboa, pelo menos por agora.

Não fiquem tristes, nem especialmente julguem que faço isto por vos considerar os dois (!!) completamente doidos, mas sim por ter entretanto conhecido uma pessoa.

E confesso que quando estamos juntos lembro-me sempre de vocês, pois como casais somos muito parecidos.

E só espero que o sentimento que começa a brotar entre nós seja alguma vez tão forte como o que vocês nutrem um pelo outro.

Sim, disse nutrem e não nutriam, pois sei bem o que escrevo.

Não preciso de bolas de cristal, de psicoterapias, nem sequer de vos olhar olhos nos olhos. Vocês amam-se, muito e ponto.

Em anexo junto os e-mails que cada um de vocês me enviou, para saberem ambos do que estou a falar!

Logo que vi as notícias liguei para os tios e por coincidência tinham acabado de receber o telefonema do médico, e podemos ficar todos descansados que a tia está bem e recomenda-se!

E quanto a vocês, meus grandes e adoráveis anormais de enorme coração, só me vem à cabeça a recomendação do nosso saudoso Raúl Solnado: Façam o Favor de Ser Felizes!

Até breve. XD e muitos beijos