terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

"Vou tomar um café ...."


A história é real e passou-se comigo!

Dia de prova nacional para cerca de 90.000 candidatos para preencher uns centos de vagas.

Fui levar uma pessoa à escola onde iria prestar provas e ela perguntou-me o que no entretanto eu iria fazer. Respondi-lhe “Vou tomar um café e ler o jornal”.

Perante a insistência de que devia ao menos fazer a prova (para a qual nada tinha estudado nem sabia sequer do que versava) disse “Eu vou lá e se encontrar lugar para o carro à porta, faço a prova”. Então não é que havia um lugar mesmo à porta!

E graças a um lugar de estacionamento à porta de uma escola (e à insistência de alguém), o meu destino profissional e pessoal mudou. E muito.

Escusado será dizer que nunca mais tive um lugar de estacionamento à porta, em mais lado nenhum!

Mas por vezes dou por mim a pensar …. “e se ….. “

Estou permanentemente a fazer escolhas, a optar por um caminho em detrimento de outros, e consequentemente a alterar o rumo da minha vida. E a de outros.

A minha vida é portanto uma sequência de decisões com diferentes graus de importância. E na maior parte das vezes nem me apercebo das portas que fecho nem das que abro.

Na realidade nunca saberei se fiz as melhores escolhas, pois está-me vedado saber o que sucederia caso tivesse tomado outras opções.

E infelizmente o AMOR não é excepção….

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Chovem Anjos do Céu


Por vezes olho para o Céu. Gosto de ver as nuvens impelidas pelo vento a passarem por cima de mim e a taparem-me o sol só porque lhes apetece. Mas mesmo sem nuvens, olhar para aquele azul já me é suficientemente inebriante.

Sinto que um bocadinho do Céu já me pertence, tal a quantidade de meus que já lá alberga.

Ainda outro dia estava na Praia do Guincho quando passou por cima de mim um Anjo a voar baixinho. Pela forma como voava vi logo que ia cair lá para as bandas da Malveira da Serra.

Num impulso dirijo-me para o meu carro, que ainda estava longe. Pensei logo que o Anjo poderia precisar de ajuda e que mais ninguém o poderia ter visto.

Chego uma meia hora depois do avistamento. Com grande surpresa deparo-me com uma parafernália de luzes, luzinhas, mirones, fitas a demarcar, eu sei lá. Uma ambulância do INEM tinha acabado de chegar, agentes da GNR e Bombeiros completavam o ramalhete. “Estes tipos são mesmo rápidos”, pensei.

Os principais canais de televisão e das rádios já preparavam os directos e a fila de entrevistados engrossava: o padre local, o cauteleiro que viu a queda, a senhora do 1º direito que ligou para a “guarda”…… até o primo direito do Goucha e uma amiga de infância da Cristina estavam na fila!

Olhei para o lado e vi Escuteiros a venderem rifas aos transeuntes, enquanto se montavam barracas para vender tudo e mais alguma coisa, e sentia já o cheiro no ar de coiratos assados. A tenda estava verdadeiramente armada….

Vejo políticos locais aos pulinhos na tentativa de se fazerem notar, e chegavam aos magotes deputados. Os lideres dos maiores partidos já lá estavam e até o assessor do Primeiro-Ministro ia dizendo o que dito cujo já vinha a caminho.

A multidão adensava-se pois todos queriam ver o Anjo. Parecia que todo o País lá estava, pelas mais diversas e próprias razões. Ninguém queria perder a oportunidade de dizer aos netos que tinha lá estado naquele dia.

E eu? Eu só tinha ido tentar socorrer o Anjo, do qual nada sabia. Não passavam nenhumas notícias sobre o seu estado de saúde, se ainda estava no local, se estava bem ou mal. E isso preocupava-me.

Procurei furar por entre a multidão para ver se encontrava alguém que me dissesse qual o real estado do Anjo, mas deparei-me com uma barreira impenetrável do Exército.

Parece que o estavam a considerar como uma ameaça à integridade territorial do País, pois tinha violado o espaço aéreo nacional e não tinha consigo qualquer identificação. O Anjo estava a ser considerado como uma ameaça!

Ridículo, pensei eu. Como podem pensar assim?

Seja como for depressa vi alguns políticos a saírem apressadamente pela porta dos fundos. Depois os religiosos. E em breve todos os seguiram.

As televisões passaram a transmitir aquela lengalenga do “voltaremos à transmissão em directo caso surja algum desenvolvimento”, o que quer dizer que ficaram os repórteres de importância nula que iriam estar dentro das carrinhas de reportagem e só de lá sairiam caso houvesse motivo de reportagem. Ou iriam embora de vez. O que não tardou a acontecer.

À volta só ficou o lixo. Montes e montes de detritos. E uma tenda no meio. A Cruz Vermelha tinha instalado uma tenda da campanha e nesse local improvisado estavam alguns profissionais de saúde a tratarem do Anjo. Mais nenhuma vivalma por perto.

O Anjo parecia um pouco maltratado, mas fisicamente bem. Umas penas caídas no chão, umas escoriações, mas nada mais. Chorava compulsivamente e estavam a administrar-lhe calmantes.

Compreendi então.

Era apenas mais um Anjo caído….

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Da minha janela....


Da minha janela vejo uma antiga “vila” industrial, construída em tempos idos para albergar trabalhadores das fábricas de Lisboa.

Centenária, permanece como que invisível, escondida do resto da cidade e do mundo, qual Avalon de Lisboa.

Quem sabe da existência destas aldeias no meio da grande cidade? Talvez só quem lá vive. Ou quem tenha uma janela como a minha….

Vejo crianças a brincar, divertindo-se como sempre fazem os petizes. E gatos a subirem aos telhados.

Vejo outras pessoas que entram e saem das suas casas. De ida e da vinda do trabalho, dos afazeres, das suas vidas.

Da minha janela apenas as vejo. Nada sei da vida delas nem elas da minha. Apesar de morarmos tão perto…

Quem são essas pessoas? Não aparecem nas capas das revistas cor-de-rosa. Nem sequer na televisão.

Que alegrias, que dramas, que sonhos têm? Que segredos guardam para si? Como se chamam? Quem são? Provavelmente nunca saberei.

Da minha janela vejo uma antiga “vila” industrial. E gosto da vista que tenho…..

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Anjos Meus....

De vez em quando penso nas pessoas que passaram pela minha vida. Serei o único a pensar desta forma?
Não costumo pensar nos que em nada acrescentaram à minha vida, mas sim nos que a influenciaram, a mudaram, que me deram algo de bom.
Durante a minha vida passou por mim uma mole humana. O que acontece a todos nós.
Mas reparo que somente algumas delas ficaram para sempre, pois tocaram na minha alma, indelevelmente.
Quando o destino de dois seres se cruza, a meu ver não será apenas um fenómeno casuístico, uma obra do acaso. Acredito que será bem mais que isso. Quiçá uma pré-disposição. Mesmo uma conjugação.
Mas o que é preciso para que uma pessoa de entre tantas se possa destacar? Sinceramente não sei. As razões parecem sempre diversas de caso para caso.
Não foram muitas pessoas a deixarem marca, mas não é o seu número que interessa, mas sim a qualidade, a intensidade, a razão. E o sentimento.
As suas interacções foram sempre únicas e irrepetíveis, tendo acrescido muito à minha vida. E quero acreditar que acresci algo de bom às vidas delas. Pelo menos tentei.
Na realidade, são os meus Anjos
No entanto, e apesar de tudo, com algumas delas perdi o contacto. Houve um afastamento. Muitas vezes sem ter visto razão. E pior, talvez para sempre.
Para estas ocasiões ouço sempre dizer que “É a vida”, ou “A vida é feita de encontros e reencontros”, mas nunca ouvi dizer que “A vida é feita de afastamentos”. Preferimos ignorá-los. Esquecê-los.
Mas ao pensar nessas pessoas verifico que na realidade estão e estarão sempre comigo, pois as nossas almas encontram-se umbilicalmente conectadas, tal como com aquelas que sempre estiveram comigo.

E confesso, sinto-me tão feliz por isso…..

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

A Vida é um Novelo


 

Desde cedo comecei a ler sobre antigas religiões, e fascinava-me como abordavam o tema da vida. Civilizações que aparentemente nunca tiveram contacto umas com as outras contam histórias muito semelhantes sobre o Destino, como se tivessem tido origem numa história comum, nos primórdios dos tempos.

A imagem que mais tenho presente é a representação do destino dos antigos nórdicos. Os novelos dos destinos dos homens eram guardados pelas Norses, três divindades femininas que representavam o passado, o presente e o futuro. Elas teciam o destino dos deuses e dos homens com fio fiado pela deusa Freyja, que tudo sabe e não fala.

Assim desde cedo fiquei com sensação que a vida era um novelo (e não só uma novela), e que se ia desenrolando até ao momento em que algum ser divino cortava o fio no momento previsto pelo Destino.

Se bem que não esteja descrito na lenda é nosso dever velar pelo nosso novelo, observando constantemente o fluir do fio da nossa vida. Só assim estariamos prontos a intervir caso o nosso fio começasse a “emaranhar”.

Esta ideia veio novamente à minha cabeça porque durante algum tempo perdi deliberadamente de vista o fio da minha meada, e perdi-o de vista porque estava mais atento ao fio de outrem que ao meu. E o mais estranho nisto tudo é que o perdi de vista e (quase) nem me lembrava dele, tão absorto que estava.

Agora, recuperado o que julguei perdido para sempre, e que nunca deveria ter ficado longe da minha vista, digo: “Bem-vindo de volta, fio da minha vida. Que nunca mais te perca de vista. Nunca mais."



Nota: é às Norses que é atribuída a citação “Eu sou tudo aquilo que fui, sou e continuarei sendo.”