segunda-feira, 30 de novembro de 2015

MANEPA

Uma amiga minha iniciou há uns anos um movimento sui generis – o MANEPA – Movimento Abolicionista do Natal e Passagem do Ano, ao qual aderi com entusiamo. A sua linha programática propõe que se elimine o Natal na sua actual forma comercial.


 Se bem que os argumentos utilizados são, na minha opinião, muito fortes e convincentes, sei que jamais chegarão para convencer a maioria.


É que do outro lado da barricada está a gigantesca "Máquina Natalícia", que inclui o Pai e a Mãe Natal, comerciantes, fabricantes, distribuidores, etc, etc, estando por último as inocentes criancinhas, ou seja, as consumidoras finais, que farão beicinho caso não recebam as suas mais que merecidas prendas.

Assim de um lado estão cerca de 99,998% da população e do outro 0,002% que pertencem à MANEPA.

Mas será que o Natal está assim tão comercial? Resposta: SIM!! Tu já reparaste que todos os anos pensas e dizes a mesma coisa: “eu este ano não vou comprar prendas para ninguém!”, e após uns segundos de silêncio, acrescentas: “bem, só para as crianças, pois o Natal é para elas .

Só que depois entra em acção a Popota, a Leopoldina, o Ferrero Rocher, o Barbudo nos Centros Comerciais, etc, e o teu cérebro entra em Modo Natal, lentamente, quase sem te aperceberes.

Tu até começas bem, cheio de boas intenções, pois compras os brinquedos para a criançada aproveitando os descontos do Continente, e julgas que ficas por aí. Mas a “Máquina Natalícia” sabe que é a altura do tudo ou nada. E não desiste!

Esta começa verdadeiramente a funcionar na altura de se receber o subsídio do Natal (para quem o tem, claro) e levas incessantemente com as promoções, os Black Friday, os pagas 2 levas 3 e começas a pensar “esta é uma boa oportunidade para comprar aquilo”. Sim, é, e também de seres apanhado. E já foste.

Eu sei que não tens culpa. Todos os anos logo após o final do Verão ficas apanhado numa lavagem cerebral que nem George Orwell imaginou no seu livro 1984. É que nem a Coreia do Norte consegue difundir tanta propaganda em tão pouco tempo.

Por isto tudo aderi à MANEPA. Se te quiseres libertar do Natal comercial adere também. É grátis. Já agora Feliz Natal para ti. Mas do verdadeiro!

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Eu Conheço-te. Desde Sempre



Displicentemente olho para o ecrã do computador e percorro rapidamente os nicks dos presentes. Famosos, conhecidos, outros nem por isso e alguns visitantes.

Imagino sempre este "mundo" como um conjunto de portais, como se fosse um FarmVille com pessoas em vez de vaquinhas, porquinhos e hortinhas virtuais.

Nestes portais reparo que há nicks que estão sempre lá, como se a sua vida fosse efetivamente essa. Cresce-me a sensação de ali não haver vida real e de nem me conseguir aperceber por vezes que são pessoas de verdade. Mas são. Pelo menos acho que sim.

Reconheço alguns nicks pela sua originalidade. Sim, que criar um nick decente e que fique na retina requer um conjunto de predicados que não está ao alcance de qualquer um. Fala a voz da experiência: bem tentei e não consegui.

Mas hoje vim cá porque estou com uma sensação diferente e não a sei explicar por palavras. Deixo-me ir. Normalmente quando o meu corpo pede um determinado alimento eu ouço-o e correspondo logo que possa. Essa comunicação é demasiado instintiva e animal para a ignorar. E a sensação de hoje tem fortes semelhanças.

Percorro novamente a lista de nicks, desta vez com mais atenção. Nada. Estou prestes a desistir mas algo me impede a mão de carregar no off do portátil. Estranho. Quase que ouvia “Olha a lista, olha a lista novamente, meu imbecil!”. Quase a contra gosto percorro mais uma vez a tal lista. “Imbecil porquê? Não há aqui nada!” Penso.

Olho novamente e vejo de repente um nick esquisito que nunca tinha visto e nem consigo descortinar o seu significado ou origem. Fico sem saber o que pensar.

Fiquei logo com a certeza absoluta de ter visto aquele nick na lista, uma e outra vez, tal como o vi agora, mas parecia diferente, como que escondido dos meus olhos porque ainda não estava na altura de reparar nele. Só quando fosse o momento. Que aconteceu agora.

Um sentimento único e novo percorre todo o meu ser. Surge um silêncio súbito - a minha voz interior cala-se, como que a dizer “Sim, é isso.” e reparo que o tempo entretanto pára e tudo fica em suspenso. Por quanto tempo não sei dizer mas nada ouço e nada se mexe. A sério.

Observo com mais atenção o nick. É-me completamente desconhecido mas por alguma razão imensamente familiar. Não consigo explicar essa incongruência, mas aceito-a. Só tive uma sensação semelhante e foi quando ouvi pela primeira vez um nome de uma cidade e ela soou-me como se fosse a minha terra natal. Não a fui visitar. Ainda.

Não sei o que escrevo. Talvez uma mensagem de boas vindas em marciano, ou então uma frase banal.

De Marte ou sei lá de onde a resposta não tarda. Aturdido abro os olhos de espanto. Garanto que não sei o que responderam de volta, mas não é importante. Sinto que nada mais importa pois o sentimento que me invade é intenso, envolvente, único, verdadeiro. Não consigo explicar nada. Decerto nunca o conseguirei.

Ela estava à minha espera do outro lado, e aguardava. Algo a impedia de se ir deitar pois as instruções que invadiam também a sua cabeça eram claras: “Aguarda mais um pouco. Tem paciência.” E estas eram para respeitar, talvez por serem tão inusitadas, ou por serem tão afirmativas.

Ela não viu o meu nick entrar. Ela não estava atenta às entradas e às saídas, nem se preocupava com quem lá estava, habitual ou não. Pediram-lhe para aguardar e não para agir. E ela esperava. Sim, esperava.

Quando a minha saudação inicial lhe apareceu no monitor, foi como se uma mensagem de completa serenidade e familiaridade se tratasse, não de uma intromissão de um desconhecido qualquer. Ela sentiu instantaneamente que era o que tanto esperava. És tu! Eu conheço-te e tu conheces-me. “Olá!”respondeu, de seguida.

Imediatamente tive a certeza do que já sabia no íntimo. Sim, és tu. Eu também te conheço, desde sempre. “Olá também para ti….. Amor. Até que enfim!”

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sentimentos


O primeiro sentimento de que me lembro foi muito forte, tão forte que perdurou pelos anos até hoje. Eu era muito pequeno e fiquei indignadíssimo!

Imaginem vocês eu ter tido uma ideia fenomenal, e sem dizer nada a ninguém comecei a pô-la em prática. Quando os adultos se aperceberam do que eu estava a fazer riram-se e disseram que não, que não podia ser.

Os adultos não me trataram mal nem me desrespeitaram. Antes pelo contrário, acharam graça à iniciativa. Mas para mim a ideia era muito boa e por isso não compreendi a razão porque me impediram de a por em prática. Ela era fantástica!

O facto de ter permanecido na memória este sentimento de indignação (mas podia ter sido outro) leva-me a pensar que estes, quando puros e verdadeiros, são extremamente fortes e perenes. Eles ajudaram-me a formar a minha alma e a definir quem sou, passando a fazer parte de mim.

Os sentimentos ficam gravados para sempre no coração, e é por isso que me lembro tão bem deles e não tanto das memórias, sejam elas quais forem. Os sentimentos são (quase) tudo na vida, e é só com eles que ficarei, quando o resto se esvair.

Sei o que estão a pensar, e é claro que eu nunca vos contarei o episódio com que iniciei o texto, pois iriam pensar como eu: “Que criancice!”

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Sabes quando regressará a Primavera?


Tu sabes, eu sei que sim…

O amor dá cores únicas à vida, as janelas da alma abrem-se de par em par e ficamos totalmente rodeados de luz e de suaves aromas primaveris.

Sem amor tudo fica com uma tonalidade cinzenta, nevoenta, fria, e julgamos que nenhum raio de sol nos voltará a aquecer o coração.

Tu sabes quando regressará a Primavera? Depois diz-me…
É que estou à espera dela....

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Silêncio


Uma das coisas que mais me afecta é o silêncio.

Não me estou a referir ao silêncio da noite. Esse é perfeitamente normal, pois moro numa rua sossegada e agitação em minha casa é coisa rara e pouco vista.

Refiro-me sim ao silêncio de quem eu queria que me telefonasse, escrevesse, enviasse mensagens, e-mails ou aparecesse. Uma simples prova de vida.

Mas em vez disso remete-se ao silêncio. Profundo. Perturbador. Opressor até!

O seu silêncio silencia-me, impedindo-me de falar, de escrever, de aparecer. Até de viver.

Não, recuso-me a ouvir mais esse silêncio. Eu não o suporto mais. Vou calá-lo de vez! Logo que descubra como…

O silêncio é o mais insuportável dos sons para quem o não quer ouvir.